Coluna Esplanada

Alvo de investigação, aeroporto de Maricá vira uma novela de mistérios

Leandro Mazzini

Na esteira da polêmica judicial entre a Prefeitura de Maricá (RJ) e aeroclubes que operam no Aeroporto da cidade, sobre o controle do aeródromo, surgem capítulos documentais que acirram o debate.

O aeródromo surgiu aos holofotes nacionais após o acidente, na cidade, com dois aviões que causaram três mortes nas últimas semanas – um monomotor caiu sobre um casa e matou o piloto. No dia 21 de Outubro, um bimotor do Aeroclube do Brasil, com sede em Jacarepaguá, caiu no lago a 10 km da pista, após uma suposta arremetida na qual um dos motores falhou. Causou a morte do instrutor e um aluno, um jovem juiz.

A Prefeitura contesta na Justiça a cessão, no fim da década de 90, do aeródromo pelo ex-prefeito aos aeroclubes que operam no local. Desde então, a despeito do vaivém do embate judicial entre prós e contras para os dois lados – a prefeitura retomou o direito , em 2012, de controlar a área por 35 anos – aumentou consideravelmente o número de hangares privados no local, sem fiscalização – segundo a administração municipal, por empresários que ocupam a área irregularmente.

marica

A notificação da prefeitura para a Anac, em 17 de setembro, lembrando o decreto de seis dias antes

No último dia 11 de setembro – por curiosidade, data que lembra o fatídico terrorismo nos EUA – o decreto 171 da prefeitura dispôs sobre o fechamento para pousos e decolagens na pista – e decolagens apenas autorizadas pela prefeitura. A Agência Nacional de Aviação Civil foi comunicada seis dias depois.

O último acidente, do dia 21 de outubro, trouxe à tona toda a encrenca envolvendo a briga entre aeroclubes, empresários e a prefeitura, e a dúvida se a Anac cumpriu seu papel ao notificar os pilotos sobre a proibição dos pousos.

Agora o MP e a polícia investigam a responsabilidade de cada um.

Aí começa outra novela, nos bastidores: a investigação policial na delegacia do município, onde os poderes têm laços apesar da independência, e a de um promotor recém-chegado com a responsabilidade da independência diante do peso do corporativismo do Judiciário nos ombros.

O promotor, em declaração recente à TV Globo, indica que a linha de investigação pode ligar a arremetida e o acidente ao suposto carro atravessado na pista, versão que a prefeitura contesta. Havia patrulha, mas parada no gramado.

Não bastasse essa turbulência oral, ressurgem as suspeitas de ligações de alguns hangares com um grande bicheiro do Rio. Um deles fica fechado e não se sabe o que tem. A polícia teria foto dos últimos dias de um container retirado com um caminhão dentro de um dos hangares. A memória política-policial ainda remete ao relatório da CPI do Narcotráfico no Congresso, que apontou suspeitas de ligações do aeródromo com a conexão Atibaia, sobre carregamentos de drogas.

Os próximos dias e semanas podem desvelar mais situações, ou dar partida numa turbina de escândalos.

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