Coluna Esplanada

Arquivo : janeiro 2014

Denúncia contra Lupi expõe racha sobre controle do FGTS
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Leandro Mazzini

A denúncia publicada na IstoÉ no último sábado, de que uma empresária pagou R$ 200 mil de propina ao então ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e na qual cita que Manoel Dias ‘é nosso’, envolve muito mais que a acusação sobre um suposto esquema milionário de venda de registro sindical. Nos bastidores, descerram-se as cortinas de algo maior dentro do ministério: a disputa pelo poder no Comitê de Investimento do FGTS, com saldo de bilhões para investimentos.

Em entrevista, a empresária Ana Cristina Aquino disse que entregou dentro de uma bolsa Louis Vuitton a quantia ao próprio ministro. Ele nega e rebate que não há provas. Mas numa outra frente, Ana Aquino envolve o advogado do PDT no Paraná, João Alberto Graça. Segundo Ana, ele se tornou sócio de sua empresa no Estado, de carretas ‘cegonha’ para transporte de carros, a fim de abocanhar contrato com a Renault, recém-instalada na região; mas nada andou, e a empresa não saiu do papel.

É neste ponto que começa a encrenca, e aparece outra encrenca na esteira da denúncia. Não é apenas a acusação política. Há um jogo de interesses dentro do Comitê do Fundo de Investimento do FGTS. João Graça será (ou seria) o próximo presidente do comitê, com poder de caneta para direcionar investimentos do fundo. Mas agora é detonado por parte do conselho. Abriu-se, então, uma guerra entre dois grupos.

Um defende a posse de Graça na presidência, por direito de rodízio, como representante do governo. Outro o quer fora dali, e usa a denúncia da revista para extirpar do ministério a turma de Graça. Este grupo quer indicar para o cargo o representante da Caixa, Fábio Cleto.

E por trás dessa disputa de indicações, os objetivos de cada grupo: João Graça é contra a aplicação de R$ 9 bilhões do FGTS para a Petrobras no projeto do complexo petroquímico de Itaboraí (RJ), o Comperj. Os adversários internos de Graça trabalham pelo aporte para ajudar a petroleira no projeto. (Aqui, um parêntese: a destinação dessa vultosa quantia para a Petrobras é surpresa para muita gente graúda do governo. É outro mistério, já que a estatal informa estar bem das contas..)

Houve na Quarta à tarde uma tentativa de torpedear Graça numa eleição virtual. Não conseguiram por falta de quorum. O homem ganhou fôlego. A nova reunião será dia 26 de Fevereiro e muita coisa pode sair dos corredores até lá, contra os dois lados. A despeito de tudo, cabe ao MP denunciar o esquema do registro sindical, se houver provas, e à polícia fechar o cerco ao ministério.

TUDO IGUAL

Não foi surpresa para o chanceler brasileiro Luiz Alberto Figueiredo a conversa ontem, em Washington, com Susan Rice, conselheira de Segurança Nacional dos EUA.

Ele disse que está ‘tudo igual’. Por essa expressão, a despeito da fala codificada do ministro, depreende-se o que ele próprio já relatara em Setembro passado para pequeno grupo de parlamentares, no Itamaraty, quando a Coluna revelou o teor da conversa: Os Estados Unidos não vão pedir desculpas e continuarão a espionar, disse à época o chanceler. A visita a Washington, a pedido de Barack Obama e com o consentimento de Dilma Rousseff, é apenas mais um falso passo no jogo de interesses. ‘Tudo igual’ é tudo está no mesmo lugar.

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Paraguai também quer verba do BNDES para obras
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Leandro Mazzini

Com a generosa oferta presidencial, com o talonário do BNDES, para obras em países de governos amigos – como Cuba e alguns da África – não seria surpresa que o apetite das empreiteiras e de outros chegasse a Brasília.

Agora é a vez dos paraguaios reivindicarem um lugar na lista das benesses. Baixaram ontem em Brasília os ministros da Indústria, Gustavo Leite, e de Obras Públicas, Ramón Jiménez. Segundo boletim de suas assessorias, ‘manteriam várias reuniões a fim de captar recursos para o País’ vizinho.

O périplo dos ministros ontem e hoje envolve em especial a sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a sede do BNDES. A incursão à CNI naturalmente suscita uma agenda de interesses comerciais e empresariais, mas ao bancão remete ao apetite por fomentos diretos.

A novidade é que de anos para cá todas encontraram no BNDES e no aval da Presidência da República – sob as gestões de Lula e a atual, de Dilma Rousseff – a anuência para financiamentos bilionários nem sempre transparentes, como é o caso do porto de Mariel, em Cuba, que recebeu US$ 682 milhões do bancão via Odebrecht. A América Latina vive uma efusão de grandes obras públicas, muitas delas tocadas por grandes empreiteiras brasileiras como OAS, Odebrecht, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa.

Para citar dois casos, a Odebrecht amplia o metrô de Caracas, na Venezuela; Pepe Mujica, presidente do Uruguai, abriu licitação para construção via PPP de uma penitenciária em Montevidéu, e brasileiras entraram na disputa. Equador, Bolívia e Colômbia completam o rol de obras das brasileiras que recorrem ao banco. Os paraguaios sabem onde pisam e querem entrar para a patota.

A vinda dos ministros é mais um passo da tentativa de aproximação do novo presidente, Horácio Cartes, com a presidente Dilma. Cartes é um figurão bilionário no país hermano. Dono da Tabesa, tarimbada na lista secreta das autoridades policiais brasileiras na remessa de cigarros contrabandeados para o Brasil. Concorrentes brasileiras indicam que a empresa de Cartes sonega descaradamente uns R$ 3 bilhões por ano em impostos no Brasil – imagine, então, quanto deve faturar.

Um detalhe, na posse de Cartes ano passado baixou em Assuncion no jatinho do clube o então presidente do Barcelona, Sandro Rosell, que caiu esta semana. São amigos de longa data. Em suma, é plausível dizer que a relação de Cartes com Rosell é tão misteriosa quanto a doação do BNDES para obras no exterior.

PONTO FINAL

No País da piada pronta: Sobre o golpe de R$ 20 milhões na Educação do Governo do DF, em 2004, 10 anos atrás, a Polícia Civil já desconfiava de encomenda de creche de 1.900 fraldas em….açougue. Mas a investigação só começou em 2011 e só ontem a quadrilha foi presa.

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Reforma tributária, a nova tentativa
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Leandro Mazzini

Assunto contraditório há décadas no Congresso, a reforma tributária ganha capítulo na estreia do Ano Legislativo semana que vem. O presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), vai encarar o desafio como marca de sua gestão. Num primeiro passo, vai oficializar o deputado federal Alfredo Kaefer (PSDB-PR) presidente do Grupo de Trabalho Parlamentar que discutirá um novo pacote de leis. E até o fim do ano pretende aprová-lo na Casa. Depois, o Senado assume o desafio.

Um dos maiores empresários do Paraná, Kaefer é especialista no tema e debruça-se desde o ano passado sobre planilhas e números, além de ter iniciado conversações com seus pares. Tem ciência das agruras do pequeno ao grande empresário brasileiro no pelourinho do chicote fiscal do governo. Há anos esse tem sido o desafio: diálogo entre os Estados, a União e os empresários, de forma que encontrem um pacote em que todos ganharem. O problema é que numa economia estagnada, ninguém quer ceder. Enquanto isso, a presidente Dilma Rousseff lança mão de paliativos como isenção de IPI para alguns setores a fim de alavancar a macroeconomia – e assim ganha a fúria dos setores não contemplados, eis outro problema.

Congressistas que tentaram outras vezes apontam a unificação do ICMS como solução primordial. É o imposto da discórdia. Com seus distintos índices, é a noiva de todo governador. O recolhimento do imposto tem sido fundamental no fechamento das contas dos Estados e moeda de barganha para atrair empresas. Vide o que aconteceu com a facada da Fazenda que aniquilou o bilionário Fundap do Espírito Santo ao enterrar a autonomia do Estado no ICMS de importação. A Viúva teve de retribuir com R$ 3 bilhões, pingados a conta-gotas no Tesouro capixaba.

Em Davos, a presidente Dilma teve uma oportunidade ímpar para falar da reforma tributária, para os maiores empresários do mundo que pretendem investir no Brasil. Mas como, se nada andou no Congresso? Se ela prefere fazer da Secretaria de Micro e Pequena Empresa um reduto do neoaliado PSD, impotente para iniciativas de desburocratizar até a vida de um dono de mercearia?

Com aval de Henrique Alves e do PMDB, e uma boa ajuda das Frentes Parlamentares empresariais, Kaefer terá a faca e o queijo na mão.

RADIOGRAFIA PETISTA

O jornalista Zózimo Tavares, editor-chefe do Diário do Povo do Piauí, lançou o livro ‘Aprendiz de Feiticeiro’ (244 pág.), uma compilação de artigos sobre a gestão do então governador Wellington Dias (PT), de 2003 a 2010. Segundo o autor, a obra mostra como ‘o PT chegou ao Governo do Piauí e, uma vez no poder, meteu os pés pelas mãos’. Detalhe: Dias é pré-candidato ao governo e lidera as pesquisas.

PERSEGUIÇÃO

Combativo e voz isenta do jornalismo maranhense, o Jornal Pequeno, o mais lido no Estado, sofre desde 2008 perseguição do senador José Sarney (PMDB-AP) e de seus asseclas mandatários, conta o editor-chefe. O veículo é alvo de três processos – dois movidos pelo senador e um pelo deputado federal Chiquinho Escórcio (PMDB-MA). Simplesmente por mostrar verdades das mazelas do Maranhão. Lembrete: Sarney impediu na Justiça O Estado de S.Paulo de publicar denúncia contra o seu filho, Fernando, alvo de investigação da PF. Retirou a ação depois do mico.

CONTRA-ATAQUE

O secretário do Governo do Paraná, Pepe Richa, e o chefe do escritório de representação do Estado em Brasília, Amauri Escudero, vão processar a empresária Ana Cristino Aquino, que concedeu entrevista à IstoÉ. Na reportagem, Ana, que almejava ser a rainha das Cegonheiras (carretas que transportam carros das montadoras), os acusa, sem provas, de receber propina (Pepe) e de pedir sociedade em empresa no Estado (Escudero). Os negócios de Ana não andaram no Paraná, segundo ela mesma diz, e sua situação como laranja de grande empresário a deixou na mira da polícia.

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Dinheiro brasileiro mergulha no Caribe
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Leandro Mazzini

Hoje é o Dia do Cooperativismo em Cuba, toda terça o é. Foi uma maneira de os Castro iniciarem a abertura para a esperada transição – a volta ao capitalismo, após a utopia socialista de um feito histórico contra o imperialismo. Mas a ideologia ficou lá atrás, os irmãos Castro enriqueceram e o povo não, e naturalmente entenderam a pressão popular por melhores condições de vida, a despeito da idolatria ao mito vivo. E gradativamente os donos da ilha vão cedendo ao modelo que rege o mundo, enquanto contam com as colaborações de presidentes amigos (e generosos), com dinheiro alheio.

Um destes amigos é o governo brasileiro. Em Cuba, a presidente Dilma Rousseff acaba de inaugurar o porto de Mariel, a 70km de Havana, construído pela Odebrecht com financiamento de US$ 682 milhões do nosso BNDES – ontem na inauguração a presidente anunciou disposição de conceder mais US$ 300 milhões. Ou seja, o dinheiro do povo brasileiro nada de braçadas no Caribe, enquanto os portos brasileiros afundam na própria infraestrutura ruim, propala a oposição. Já governistas apontam que o porto poderá ser entreposto de produtos brasileiros para os EUA e México, com a aguardada abertura comercial e o fim do embargo americano.

Um amigo da Coluna voltou este mês de Cuba, esteve com oposicionistas e governistas. Diz que a abertura é questão de tempo – talvez após a morte de Fidel, não o fazem ainda por respeito. O irmão, o presidente Raúl Castro, é incentivador convicto. Promove paliativos econômicos para os cubanos – como autorização para comprar táxis, carros usados e novos. E às terças, os trabalhadores podem comprar a produção para revender por 50% do valor. Os produtores rurais (campesinos) podem levar uma parte da produção para venda no comércio local ou em feiras.

O curioso em Cuba é notar que a idolatria a Fidel se transfigurou também no falecido Hugo Chávez, considerado por eles ‘o nosso melhor amigo’. Cartazes e outdoors com fotos do bolivariano se espalham pela capital, exaltando o apoio petrolífero à ilha caribenha. Chávez doava milhões de barris de petróleo por ano a Cuba.

Com o presente brasileiro para Cuba no porto de Mariel, uma decisão do então presidente Lula, não é exagero dizer que o petista quer entrar para o hall da fama – ou dos outdoors – nas ruas do regime aliado. A situação é essa: nosso dinheiro mergulha bonito no lindo mar do Caribe, e o brasileiro se vira aqui – a alto preço – com a sua caixa d’água. Quando não falta água.

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PF tem 100 mil inquéritos abertos contra corrupção e tráfico no País
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Leandro Mazzini

adpf

Marcos Leôncio, presidente da ADPF

Os números são alarmantes, do tamanho dos problemas do Brasil: a Polícia Federal tem atualmente 100 mil inquéritos abertos, em todo o País, contra corrupção na administração pública, lavagem de dinheiro e crimes correlatos. “A maioria é de tráfico de drogas e  de crimes contra a administração pública”, revelou o presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), Marcos Leôncio, em entrevista exclusiva ao repórter Luciano Coelho, publicada hoje no Diário do Povo do Piauí.

O delegado afirma também que a Federal há alguns anos passou a priorizar o crime do colarinho branco e contra administração pública. “Hoje, os delegados têm como foco os desvios de recursos públicos, lavagem de dinheiro público, crimes financeiros e crimes cibernéticos (..) Entram licitação, convênios, repasses para as prefeituras..”.

Leôncio ainda revelou que há investigações em andamento no Piauí e em todos os outros Estados. Citou como exemplo recente a que desarticulou a quadrilha que deu um golpe na Caixa no crime da fraude de prêmio da Mega Sena.

O presidente da ADPF diz que, além das investigações em curso, há duas prioridades da PF em especial para este ano. No primeiro semestre, garantir a segurança para a Copa do Mundo, e no segundo, enquadrar eventuais crimes eleitorais.

Leia a íntegra da entrevista aqui.

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Troyjo: Brasil x Davos 2014 – qual o resultado?
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Leandro Mazzini

Economista e cientista social, o diplomata Marcos Troyjo, colunista da Folha, é hoje um dos maiores especialistas em BRIC e economia mundial. Teve uma passagem pela sede da ONU como secretário da missão do Brasil na organização. Conferencista em vários países da Europa e Ásia, fundou e dirige o BRIC Lab na Columbia University há dois anos. 

Troyjo faz uma análise sucinta do Fórum Econômico Mundial em Davos no que concerne à participação do Brasil no evento:

“Nesses últimos três anos, o Brasil de Dilma foi despertado de um sonho bom. Governo e sociedade vêm tendo de encarar uma dura realidade: ao contrário do que supunham, o Brasil não criou fórmula miraculosa unindo alto crescimento à inclusão social.

Não há no País pilares de um novo modelo de desenvolvimento. Dada a baixa poupança interna, o Brasil continua a depender de grande influxo de capitais financeiros e também de investimentos estrangeiros diretos (IEDs). Por isso o tapering (diminuição de estímulos monetários nos EUA) e a própria retomada da expansão nos países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) causam apreensão no governo brasileiro.

Sem a certeza de um crescimento automático e inevitável, ilusão alimentada pela cúpula do governos Lula-Dilma durante o período em que o País era o “queridinho dos mercados” e só recebeu a “marolinha” da crise de 2008, o Brasil começou a descer do salto alto. Daí Dilma, notadamente desinteressada em temas internacionais, ter optado por ir a Davos.

Muitos dos fatores que permitiam tal entusiasmo foram perdendo verniz. Perspectivas de biocombustíveis e petróleo pré-sal não são mais tão animadoras. A governança e planejamento do setor energético brasileiro estão à deriva. Efeitos da expansão do crédito e consumo não têm mais caráter tão multiplicador. O apetite da China por commodities em que temos vantagens comparativas não parece mais tão pantagruélico. Além disso, em razão dos conhecidos problemas logísticos brasileiros, os chineses têm buscado diversificar seu quadro de fornecedores.

Assim, foram quatro os pontos nevrálgicos em relação ao que a comitiva brasileira tinha a dizer:

1) Protestos. Isso é da democracia, e Dilma o ressaltou bem em seu discurso. A apreensão no entanto permanece em relação ao que pode acontecer durante a Copa do Mundo.

2) Mudança no panorama internacional da liquidez. Dilma também mencionou isso e sublinhou os mais de US$ 370 bilhões de nossas reserva cambiais. Muito do que se espera do afrouxamento da política monetária dos EUA nos próximos meses já foi precificado e incorporado ao atual patamar do câmbio no Brasil (e a depreciação dos últimos dias reflete os efeitos colaterais do que está acontecendo na Argentina).

3) Gestão da política econômica. O Brasil ainda vai sofrer por algum tempo os efeitos dessa combinação de afastamento do tripé, microgestão das concessões, custosos equívocos na política industrial (as tais de “campeãs nacionais”), além do peso fiscal dos incentivos setoriais e do gigantismo da folha de pagamento. Aqui, os números não batem com o discurso de Dilma. Além disso, do ponto de vista comercial, o País está sem bloco. O Mercosul converteu-se numa plataforma de empatias políticas, e o Brasil não negociou acesso aos principais mercados compradores do mundo. Sua ênfase nas negociações multilaterais no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) mostrou-se ingênua, dada a inoperância e lentidão da entidade. Toda esses erros de política exterior no campo econômico hoje têm perceptível impacto negativo nas contas externas.

4) Reformas estruturais. Esta foi a parte mais decepcionante do discurso de Dilma. Nada falou sobre reforma tributária, trabalhista ou de seguridade social. Em termos de melhora do ambiente de negócios, Dilma anunciou apenas a implementação do portal “Empresa Simples”, que prevê a redução para 5 dias do tempo médio para se abrir uma empresa. Embora importante, esse tipo de medida favorece sobretudo empresas de pequeno porte. Pouco interessa ao tipo de empresário/investidor que frequenta Davos. Estes sofrem por custos diretos e indiretos da bizantina legislação trabalhista e fiscal no País. Têm de contratar verdadeiros exércitos de contadores e advogados, em vez de gente voltada à atividade fim da empresa. Mesmo quando mencionou a necessidade de “mudanças” num painel sobre Brics, o Ministro da Fazenda Guido Mantega elaborava mais em termos conceituais do que sobre um plano de trabalho a ser efetivado nos próximos meses. Talvez tenha buscado sugerir algumas pistas do que seria a orientação no segundo governo Dilma, mas a probabilidade desse processo iniciar-se neste ano, ainda mais por razões eleitorais, é nenhuma.

O marco maior da conjuntura do Brasil no mundo é que o País está poupando e investindo menos que os 22% do PIB – média da América Latina. Esta, por seu turno, já é muito inferior ao percentual de investimentos do Sudeste Asiático. O Brasil não conseguirá investir mais sem quebrar vários ovos nas áreas trabalhista, fiscal e de seguridade social.

Dilma não parece ter gosto ou mesmo vocação para liderar reformas. Seu presidencialismo de coalizão está mais a serviço do projeto de sua perpetuação no Planalto do que orientado à modernização institucional do país. Assim, o Brasil de Dilma utilizou Davos essencialmente para apresentar relatório de realizações, vocalizar compromisso com alguma ortodoxia macroeconômica, elencar fronteiras móveis de consumo e sublinhar a continuação do programa de concessões.

No limite, a ida a Davos evidencia que Dilma e equipe se convenceram de que o Brasil também precisa ser vendido, e não simplesmente comprado. Estão se dando conta de que o cenário global mudou. E ele não é favorável às escolhas “desglobalizantes” feitas pelo País nos últimos 11 anos em termos de comércio e investimento.

Assim, antes encastelada no isolamento seguro de suas convicções sobre os rumos supostamente alvissareiros do País, Dilma fez da viagem uma espécie de “Busca do Tempo Perdido”. Não representou, contudo, um “divisor de águas”. Nada se aventou da indispensável agenda de reformas estruturais.

Em vez de desilusão ou entusiasmo, a resposta do “Homem de Davos” à passagem da comitiva brasileira pelos Alpes provavelmente é apenas apertar o botão de “pausa”. Em termos de construção do futuro, o Brasil está imobilizado até 1º. de janeiro de 2015″.

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As amigas do bancão e a chance do MPF
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Leandro Mazzini

Um caso que faria do Ministério Público um herói nacional, se for a fundo na trilha dessa mata repleta de armadilhas com o dinheiro popular.

As trilhas sinuosas desembocariam neste cenário: as grandes empresas amigas e financiadoras do governo engendraram triangulação para ganhar dinheiro do BNDES sem precisar se endividar com o bancão. Em suma, o financiamento vira doação.

Essas empresas pegam o empréstimo com o BNDES à vista – com valor bem superior ao que vão usar numa aquisição – e aplicam o restante em LTN (Letras do Tesouro Nacional). Como é um título de renda fixa e retorno garantido mensal, as empresas usam o lucro para pagar as parcelas do empréstimo ao… BNDES.

Um caso recente: um conglomerado tupiniquim conseguiu US$ 300 milhões do bancão para comprar uma empresa na Argentina, que lhe custou US$ 100 milhões. Com os US$ 200 milhões restantes, a empresa aplicou em LTN, cuja alta rentabilidade tem garantido não apenas honrar as parcelas do empréstimo como enche de bônus os bolsos de seus executivos.

A Coluna procurou a assessoria do BNDES com as seguintes questões:

Uma empresa com plano de financiamento aprovado pelo BNDES para aquisição de outra pode receber à vista um valor superior ao estabelecido? Se positivo, quais os critérios para isso? O BNDES, ao conceder um financiamento vultoso, para empresa nacional adquirir outra, deve acompanhar a transação, mesmo quando não sócio? O BNDES tem ciência de casos de aplicação de verba direta de financiamento adquirido por uma empresa em LTN?

A assessoria se resumiu a responder que não ficou clara a demanda. Talvez o MP, numa visita aos papéis do bancão, possa explicar melhor.

MR. PALOCCI

Até os próprios petistas da cúpula do partido estão intrigados. Há alguns meses Antonio Palocci mora em Londres, e suas atividades são um mistério. Certeza é de que, de lá, tem falado muito ao telefone com o ex-presidente Lula.

Palocci foi ministro da Fazenda de Lula, até cair por mandar violar o sigilo bancário de um caseiro de Brasília, e ministro da Casa Civil da presidente Dilma Rousseff, até cair, novamente, desta vez por uma compra de apartamento em São Paulo não condizente com seus ganhos (R$ 6 milhões, vale lembrar, são o custo de um sinal para o tipo de imóvel que escolheu).

O recente histórico de biografia de Palocci o inseriu no grupo da estirpe de José Roberto Arruda, o ex-governador de Brasília. É a turma do poder que não se regenera. Tal como Palocci, Arruda teve duas chances de cravar seu nome no Poder nacional, sem manchar a imagem. Em vão. Quando senador, afirmou da tribuna que não havia lido a lista do painel violado na votação que cassou Luiz Estêvão. Pego na mentira, renunciou. Numa reviravolta política e eleitoral, foi alçado a governador de Brasília em 2007. Vida nova, nova chance.. que nada. Foi filmado com dinheiro de caixa 2 e depois tentou coagir testemunha de operação policial. Sucumbiu novamente.

ASSALTO À HERDEIRA

Quem revelou foi a Coluna do Dr. Petta, publicada no conhecido Jornal Pequeno, o mais lido do Maranhão: uma filha da governadora do Estado, Roseana Sarney (PMDB), foi assaltada há duas semanas em São Luís. “A filha de Roseana estava chegando ao restaurante Kitaro, em companhia de uma amiga, na noite de terça-feira, 14, quando foi atacada pelo assaltante identificado como ‘De Menor’, que levou dela uma bolsa com documentos, dinheiro e um IPhone”. Segundo o colunista, a assessoria de Roseana negou a informação, mas o jornal foi a fundo:

“A Polícia tomou conhecimento do fato e conseguiu rastrear o assaltante pelo GPS do celular da vítima, chegando a ir à casa dele, na Ilhinha, onde foi informada de que ‘De Menor’ tinha fugido para a área da Vila Embratel.   Não houve registro do fato, mas a CPTUR (Companhia de Policiamento de Turismo) tomou conhecimento do assalto”.

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Pesquisa alerta governantes sobre protestos
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Leandro Mazzini

Chegaram às mãos dos principais governantes do País os resultados de uma pesquisa encomendada a um instituto por uma grande emissora sobre a predisposição do brasileiro para efetivar protestos durante a Copa do Mundo. E o resultado foi alarmante: sim, há grande possibilidade de o povo voltar às ruas.

A sondagem indica que há grandes chances de ocorrerem manifestações no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Porto Alegre e Recife – algumas das sedes, a exemplo do cenário de Junho passado, quando uma multidão sem líder, sem cara, de todas as idades e movida por reclamações distintas foi para as praças e avenidas, assustando a PM e cercando governantes.

Os resultados da pesquisa foram entregues, em especial, para o gabinete da presidente Dilma Rousseff, e para os governadores Sérgio Cabral (PMDB), do Rio, e Geraldo Alckmin (PSDB), de São Paulo, as cidades-vitrines para os protestos. O que vão fazer para evitar, ou minorar os efeitos da possível convulsão social, ainda é um mistério. A própria emissora estuda como realizar a cobertura jornalística na eventualidade destes protestos, para não ser alvo de ataques, como da última vez.

Procuradas durante toda a sexta, as assessorias do instituto de pesquisa e da emissora resolveram não responder.

Domingo passado, a Coluna publicou que a presidente Dilma está preocupada com o possível retorno das manifestações nas ruas e perto dos estádios durante a Copa. Ela monitora em especial os chamados Rolezinhos dos jovens nos shoppings. Por ora, a avaliação é de que é um movimento sócio-cultural, e não protesto – mas podem se tornar e crescer, caso tenham infiltração de militantes políticos e Black blocs.

O RETORNO DE GALOTTI

Após decisão de se aposentar em 2009 no Superior Tribunal de Justiça, com dez anos de toga, o ex-ministro Paulo Gallotti retornou a Brasília e abriu um escritório de consultoria jurídica. Gallotti é juiz de carreira, exerceu a função de 1971 a 1995, quando se tornou desembargador no TJ de SC, e em 1999, nomeado ministro no STJ.
Gallotti deixou a corte à época das investigações da PF após a Operação Hurricane, que enquadrou ministros sobre fortes suspeitas de vendas de sentenças e liminares para bicheiros do Rio de Janeiro. Vale ressaltar, não havia qualquer ligação do ministro com o esquema, tampouco provas.

PONTO FINAL

E o Justin Bieber, hein?! ‘Bierbeu’ demais e saiu para fazer racha. É um minibabaca.

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Na reforma ministerial, a autofagia Palaciana
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Leandro Mazzini

A iminente ida de Aloizio Mercadante para a Casa Civil da Presidência da República pode transformar a esperada reforma ministerial de fevereiro numa autofagia palaciana entre os petistas. Desde o início do governo Dilma, há uma velada disputa entre os Lulistas e Dilmistas.

Um grupo dentro do partido defende a volta de Lula como candidato a presidente já este ano. Esses lulistas passam longe da maioria na legenda, mas são muito fortes. Para eles, Dilma não tem traquejo político e não sabe ouvir. E como consideram ter Mercadante o mesmo perfil da chefe, vislumbram que a interlocução palaciana com o PT tende a piorar.

Esse mesmo grupo articula para levar a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti (PT-SC) para o Ministério da Educação, tão logo saia dali Mercadante. E, para o lugar de Ideli, os Lulistas defendem Aldo Rebello (PCdoB), hoje nos Esportes. Mas Aldo sair da pasta em plena Copa do Mundo seria surreal, ou o plano petista para o comunista é fogo amigo.

Só as próximas semanas e as decisões da presidente vão mostrar se esses petistas têm poder ou vão ficar com as barbas de molho.

Os Lulistas acreditam que o ex-presidente não está morto eleitoralmente, apesar de o próprio negar a candidatura. Para eles, num cenário com Aécio Neves crescendo, Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (Rede) numa chapa em ascensão, e Dilma derrapando nas pesquisas, Lula volta. Falta combinar com o homem. Um detalhe, o propalado ministro do STF Joaquim Barbosa tem até abril para deixar a corte e se tornar um vice de Aécio Neves, como querem alguns tucanos. Neste caso, falta combinar com o togado. Vontade ele tem, mesmo sigilosa.

UM RIO DE INFLAÇÃO

É notório o insaciável modus operandi de empreiteiros para ganhar dinheiro com obras, mas ninguém esperava que não poupassem nem o Cristo. Vai sair por R$ 1,8 milhão a restauração da ponta do dedo da estátua do Redentor, no Rio, atingida por um raio semana passada. Por esse preço, até Deus duvida! O dinheiro é público (virá da Lei Rouanet, via Pirelli), para pagar a construtora contratada pela Arquidiocese do Rio, que caiu no conto dos engenheiros.

O Rio anda muito inflacionado, desde que foi anunciado sede da Copa do Mundo da FIFA e dos Jogos Olímpicos de 2016. Dois anos atrás, uma chef de cozinha visitou um restaurante e pagou uma ‘porção de ar’, postou no Facebook. Isso mesmo, veio discriminada na conta, porque a cliente ficou na área interna com ar condicionado.

Até a estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade sofre inflação. A Prefeitura do Rio informou já ter gasto mais de R$ 25 mil na restauração de uma pichação do ano retrasado e por reconstruir em bronze por duas vezes as hastes dos óculos, quebradas por vândalos. No fim do ano, outra pichação. Seriam mais uns R$ 3 mil de custos para a limpeza, mas um amigo do falecido, Herbert Parente, apareceu com pincel, lata de thinner e estopa, e limpou voluntariamente. Não gastou mais que R$ 50.

Nada mais plausível essa inflação gigantesca para uma cidade na qual quem puxa a inflação são os próprios órgãos de governo – e suspeitamente, claro. É coisa para o MP investigar. Em 2011, Estado e prefeitura deram R$ 4 milhões em patrocínios para o Athina Onassis Horse Show, na Lagoa. O Rio talvez seja a única cidade no mundo onde os cavalos de raça são melhor tratados que o cidadão nos postos de saúde.

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Anatel prepara resolução para consumidor cancelar linha pela internet
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Leandro Mazzini

Uma boa notícia para quem julga a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) complacente com as operadoras de telefonia. Está com os dias contados a agonia do consumidor que passa horas, passa raiva e não consegue cancelar um serviço contratado porque cai na chamada ‘Retenção’ do call-center. Você provavelmente já passou por isso, em situações adversas: decora a musiquinha, mas nunca é atendido e desiste. Prefere receber a conta no fim do mês, apesar do serviço ruim, a perder o precioso tempo ao telefone na esperança de ser atendido ou não enrolado.

Partiu da própria Anatel, após consulta pública, acolher a ideia de órgãos de defesa do consumidor e bolar um plano: daqui a dois meses, por resolução da agência, as operadoras de telefonia terão de abrir canal nos websites para cancelamento de serviços. A ideia é, num clique, você digitar o contrato e cancelá-lo automaticamente. É o que vai acontecer: o brasileiro dará literalmente um Alô e Adeus para os maus serviços prestados.

O relator da resolução é o conselheiro Rodrigo Zerbone, e as operadoras de telefonia entraram em desespero tão logo viram que a situação é para valer. Houve naturalmente na Anatel um movimento de cautela, e com razão. Fato: a resolução vai sair, e vai facilitar a vida do consumidor. Outro fato: há por ora três problemas a serem superados. Como o cidadão vai cancelar só a linha de telefone, se for o caso, se ele tem o ‘combo’ da operadora, e precisa manter o sinal de internet e a TV a cabo? O consumidor inadimplente terá esse direito ao cancelamento automático? E o que fazer para que as operadoras, ao sentirem o baque, não descontem no RH – a maior preocupação da agência.

Isso porque os setores chamados ‘Retenção’ dos call-centers das operadoras, aqueles para onde sua ligação é transferida em caso de cancelamento, empregam no Brasil dezenas de milhares de pessoas – a maioria de jovens estudantes, conta uma fonte do setor. O desafio da Anatel e das operadoras será driblar a demissão em massa com a entrada em vigor da resolução.

Uma curiosidade é que essa solução para o consumidor, acredite, nasceu primeiro para tirar da Anatel um peso administrativo. A agência tem um call-center para atender a reclamação de consumidores contra as telefônicas no caso de cancelamento não resolvido. É como se fosse uma esfera recursal – só liga para a agência quem já tem o protocolo de atendimento não atendido numa operadora. E a Anatel resolve. Porém está sobrecarregada. Ano passado, recebeu nada menos que 4 milhões de reclamações, e a agência reguladora não tem dinheiro para ampliar seu call-center.

A saída online será uma solução para todos, sem linha cruzada. As operadoras que se virem.

O SUBSTITUTO

Atualizada Quinta, 23, 16h10: José Henrique Paim Fernandes (não é irmão do senador Paim, como publicado anteriormente) é tão jeitoso para o Poder quanto Aloizio Mercadante, que vai para a Casa Civil. Secretário-executivo, o futuro ministro adora um avião da FAB. No dia 29 de Setembro passado, Paim requereu um jatinho do governo para viajar ‘a serviço’ de Porto Alegre para Brasília. Era um domingo..

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