Coluna Esplanada

“Sou privatizante para tudo que for possível”, diz pré-candidato do PSC

Leandro Mazzini

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Revelação nas últimas pesquisas de intenção de votos feita pelos grandes institutos – numa delas já bate quase 4% – o vice-presidente do Partido Social Cristão (PSC), Pastor Everaldo, é um dos nomes que disputará o cargo de presidente da República nas eleições de outubro.

Formado em Ciências Atuariais pela Faculdade de Economia e Finanças do Rio de Janeiro, o pré-candidato revela sua ideologia e projetos.

Em entrevista à Coluna Esplanada, ele detalha como guiará sua campanha ao Planalto, e como planeja defender as tradições cristãs; revela-se liberal e defende a privatização em todos os setores os quais não são essenciais para o governo. Ataca a gestão Dilma Rousseff: ‘O ciclo deste governo acabou (..) não tem credibilidade’, e diz que o PT se distanciou do povo, ‘esse governo deve servir ao cidadão e não se servir’.

Tem um discurso fortemente religioso, mas por ora confessa que está sem coligação, o que, segundo ele, não atrapalha seu projeto: ‘me preocupo apenas com o que tenho’.

Com Pastor Everaldo, a Coluna abre uma série de entrevistas com os presidenciáveis que será publicada até o dia da eleição.

O que o motivou a ser pré-candidato a Presidência da República?

Em 2011, o Partido Social Cristão, vendo o governo que foi montado, verificou que ele não atendia as expectativas da população brasileira. Observamos que o Estado foi aparelhado para atender interesses do partido que ganhou as eleições. Numa discussão interna foi escolhido um nome para pré-candidato. Isso se configurou em 14 de maio de 2013, com o anúncio oficial da nossa pré-candidatura.

Foi uma decisão do partido ou uma decisão pessoal também?

A decisão foi do partido. Nós aceitamos a indicação do nosso nome porque verificamos que a sociedade brasileira estava esperando por uma mudança e a mudança esperada não aconteceu com o governo atual. Havia promessas que não foram cumpridas no governo instalado. Constatamos que o Brasil precisava de uma mudança política cidadã, uma política com decência, com novas ideias, com ética e com moral didática. Um país como o nosso, onde um cidadão de bem está dentro de casa e o bandido solto na rua, tem alguma coisa errada. Então é isso que a população quer: uma mudança em atendimento aos seus anseios. Hoje o governo está se servindo do Estado e se servindo da população. E nosso paradigma é que o governo deve servir a população e não ser servido. Nós representamos essa alternativa de mudança para o país.

Qual a é a Bancada do PSC hoje no Congresso?

Em 2002, nós elegemos um deputado federal. Em 2006, elegemos nove deputados federais. Em 2010, dezessete federais e um senador. Hoje nós temos 13 deputados federais e um senador.

O PR, por exemplo, tem uma iniciativa de se mostrar independente no Congresso e lançar uma campanha “volta Lula”; Seria essa também uma vertente seguida pelo PSC ou não?

O ciclo deste governo acabou. O povo quer mudança e nós acreditamos que somos uma alternativa. Faremos um governo com decência, com ordem, com honestidade, com respeito ao cidadão, com respeito à família brasileira e aos valores tradicionais. Somos a favor da liberdade de imprensa, a favor da liberdade de opinião e do Estado de direito.

A questão da defesa dos valores da família brasileira é um dos parâmetros do próprio PSC, que teve no último ano um grande ícone no Congresso Nacional, o pastor Marco Feliciano.

Na realidade, o PSC sempre defendeu essas causas e, naquela oportunidade, democraticamente e sem nenhuma articulação política, sobrou a Comissão de Direitos Humanos. Indicamos o deputado Marco Feliciano, que foi escolhido pela Bancada, e montou a Comissão para funcionar para todos os segmentos da sociedade. A Comissão, até então, servia uma parcela dos seus interesses.

Em algum momento o partido cogitou lançar o pastor Feliciano como candidato a presidente?

Ele colocou o nome dele à disposição, mas o partido entendeu que o melhor nome para disputar a Presidência seria o meu.

Qual será a bandeira do candidato pastor Everaldo na campanha, além da defesa dos valores da família?

A bandeira é a verdadeira mudança: passar a um Estado que sirva a população e não se sirva. Defender amplamente os direitos da vida, da família. Atualmente, a família brasileira precisa trabalhar mais de 150 dias por ano para pagar impostos. Somos o quinto país com maior carga tributária do mundo e na prestação de serviços somos um dos últimos colocados. Não pode continuar desse jeito.

O senhor concorda com a política econômica e monetária do governo ou não?

A pior situação que vivemos é o desarranjo na política fiscal do país. Não temos um macro estudo de planejamento do país. Não pode ficar oferecendo analgésicos, tem que descobrir o cerne da questão.

Qual seria a solução imediata ou em médio prazo para a economia?

Um exemplo para mim é o Itamar Franco. Ele pegou o país numa situação realmente difícil e “pensou” o Brasil, tanto que elegeu um sucessor de outro partido. O Fernando Henrique desenvolveu o Plano Real, que foi um motivador de estabilidade econômica no país. Então, nós temos que conciliar um governo de coalizão nacional, pegar todos os segmentos da sociedade e fazer um planejamento a longo prazo.

O senhor tomaria medidas impopulares se fosse eleito? Como cortar ministérios e custos?

Não adianta a gente querer enganar a população. Nós temos que fazer um ajuste fiscal de verdade. Chamar os governadores, chamar todas as forças da sociedade e fazer uma ação. Precisamos evitar de todas as formas o desemprego e incentivar o setor produtivo, tirando o estado intervencionista. Se deixarmos o setor produtivo trabalhar, o setor vai fazer isso bem feito, porque é isso que tem garantido a nossa balança comercial. Infelizmente, onde o Estado chega, a ineficiência tem chegado também.

O senhor está dizendo que faltou planejamento e diálogo da presidente com o povo?

Faltou diálogo e também tornar efetiva as soluções apresentadas por todos os segmentos, inclusive o setor produtivo. É preciso pensar o país daqui a cem anos, porque não adianta pensar no imediato. Por isso não vale fazer qualquer coisa apenas para se manter no Poder, tem que pensar no Brasil.

Quem está ao lado do senhor nesse discurso? O PSC estará sozinho ou vai ter uma coalizão?

Por enquanto eu estou sozinho, mas tudo que soma é importante. Eu não me preocupo com o que não tenho, me preocupo apenas com o que tenho.

Como que vai ser sua campanha?

Pretendemos juntar todas as forças que acreditam na gente. Eu já viajo o Brasil o tempo todo. Para mim, tem gente que prioriza as grandes cidades, eu não desprezo as pequenas coisas. Eu priorizo os princípios cristãos, e Jesus nos deixou princípios.

O senhor acha que, independentemente da política, o Brasil está perdendo seus princípios cristãos?

Está faltando princípios de forma geral. Não apenas princípio cristão, mas moralidade, ética no serviço público. Essa roubalheira, essa corrupção que estamos vivendo hoje no país é falta de princípio ético. Um dos princípios de Jesus é “amar ao próximo como a ti mesmo”. Então, se eu devo amar meu próximo, eu não vou roubar ele. Essa é a ética da humanidade, ética do respeito, então, nós como cristãos vamos botar em prática o máximo que pudermos esses princípios.

O senhor surge na imprensa como o pré-candidato de um segmento forte na sociedade brasileira, que são os eleitores cristãos. Como é que está a interface do senhor com as igrejas?

Eu sou evangélico. O presidente do partido no Congresso é católico. Primeiro vice, evangélico. Segundo vice, católico. Terceiro vice é um dos fundadores de São Paulo e é espírita. O PSC é um partido político, não um partido religioso. Haverá uma atenção especial para todo brasileiro que queira mudar esse país, seja cristão ou não cristão. Quer a mudança? Quer um governo cidadão e que mude e melhore esse país? Então nós vamos focar nisso.

Se o senhor for eleito como presidente vai continuar com a política de concessão?

Concessão de verdade!

O que seria concessão de verdade?

Enquanto esse governo é estatizante, eu sou privatizante. Tudo que for possível passar para iniciativa privada e para o empreendedor brasileiro, nós vamos passar. Agora, as concessões que são feitas hoje são com dinheiro de quem? Do BNDES…

Isso não acontece porque os próprios investidores estão com medo de investir e o governo apoia essa opção?

O problema todo é o seguinte: o governo não tem credibilidade. Nós vamos ser claros e sem ficar dizendo ao empreendedor qual lucro ele vai ter. Não existe isso. Tem que regular para que o serviço seja prestado. As agências reguladoras priorizam a negociação política e os responsáveis não fiscalizam ninguém. Tem que privilegiar os funcionários públicos, de carreiras, os técnicos, pagar bem os salários dos funcionários para poder cobrar. É assim que tem que funcionar! O brasileiro já trabalha demais, paga muitos impostos e a produtividade só não é maior porque o governo não deixa ser.

O PSC é aliado do ex-presidente Lula?

Nós somos da base no Parlamento, mas somos um partido independente. Nas votações no Congresso, se tivesse algum projeto de interesse do povo a gente votava a favor, quando era contra a gente votava contra.

A campanha política para a Presidência da República é muito cara. Como é que vai ser a sua campanha? Vai ser a conta gotas ou o senhor tem caixa, vai buscar o financiamento?

Eu sempre cito uma passagem bíblica sobre a multiplicação dos peixes. Primeiro: Jesus nunca trabalhou sozinho, tinha uma equipe com ele. Segundo: ele podia falar uma palavra e todo mundo estaria alimentado, mas ele preferiu organizar o povo. Ou seja, planejamento e organização. Terceiro: Jesus nunca olhou para o que ele não tinha. Com esse princípio, o que eu tenho eu vou colocar em frente. Toda forma de contribuição legal nós vamos fazer normalmente como todo mundo faz.

O STF já endossou e agora só falta a conclusão da votação no Plenário sobre proibir financiamento privado para candidatos e comitês. O senhor é a favor ou contra?

Eu sou a favor do financiamento como é hoje, mas com transparência total. Para mim, a legislação é suficiente, só basta aplicar o que existe. Hoje não dá pra entender porque querem que mudem isso. É estranho a OAB defender dessa forma porque os que chegaram ao poder foram em função desse financiamento. Isso é antidemocrático, porque nas maiores economias do mundo as contribuições são declaradas. Nós temos que ser o mais transparente possível e não sonegar informações a população.

Se o senhor não for ao segundo turno, vai se aliar a quem? Ao PSB, PSDB ou ao PT?

Eu nem pensei nessa hipótese. Eu tenho tanta convicção de que vou para o segundo turno nas eleições que não pensamos nisso.

Como que o senhor vai tratar as questões do aborto e célula-tronco nas eleições?

Eu sou a favor da vida desde a sua concepção.

E em casos de anencéfalos e estupro?

O que já existe hoje na legislação em casos de estupros é suficiente. Já a anencefalia são casos extremamente excepcionais.

E pesquisas com células-tronco?

Eu sou favorável. Toda ciência que existe é uma coisa que Deus quer que as pessoas desenvolvam. Então, quando o homem descobre as tecnologias para preservar a vida é porque Deus permite. Tem que investir mesmo em pesquisas e estudos na área científica. Inclusive, no Brasil a gente dá pouco valor aos nossos cientistas. Estão indo para fora porque o Brasil não oferece espaço. Eu sou favorável a investir maciçamente na educação básica. Eu estudei em escola pública, mesmo sendo da Comunidade eu trabalhei em camelô da feira, servente de pedreiro, Office boy, mas tinha uma escola pública de qualidade. Então, eu pude subir na vida, me formar e aprender. Um exemplo são a Coréia do Sul e o Japão pós-guerra: 60% do orçamento vão para a educação.

Sobre a Maioridade penal, o senhor é a favor da redução?

Sou a favor. Ainda estou estudando sobre o assunto, mas temos um bom exemplo do sistema penitenciário americano: fez o crime, vai pagar por aquilo independentemente da idade. Entrando em outro assunto, eu sou a favor da privatização dos presídios. No Brasil já tem experiências que estão dando 100% certo.

O senhor é a favor de privatização ou concessão de presídios?

Da privatização. A segurança é o foco que nós vamos colocar como prioridade. Vamos chamar os governadores, as polícias civis, militares e federais, e fazer um pacto, utilizar toda a inteligência possível para organizar a situação da segurança pública. Hoje o cidadão de bem está preso dentro de casa e o bandido está solto. Não é possível que um oficial da polícia militar seja espancado sem poder reagir. Não é possível aquilo que aconteceu na Rocinha dia desses, no Rio de Janeiro, uma viatura cercada por meia dúzia de bandidos que quebraram a viatura toda. Isso não pode. Nós temos que, naturalmente, corrigir os funcionários públicos e policiais que desviam da rota, mas também temos que tratar bem, porque policial hoje está desmoralizado. O governo inverteu a ordem das coisas. Não sou a favor de espancamento, mas a polícia precisar ter respaldo para combater a criminalidade no Brasil.

E a PEC 300?

O PSC defende a PEC 300 (que cria piso nacional de salário para PMs e bombeiros). Ela é necessária porque há 11 anos cerca de 40% da renda nacional estava concentrada no governo federal. Hoje, são quase 70%. Então, eu defendo uma reforma tributária e um pacto federativo para dividir aos Estados.

Suas considerações sobre a saúde e a educação. O que pode mudar?

Na educação nós temos que estabelecer uma meritocracia, com participação das famílias. Não o enlatado que vem do Ministério da Educação, que serve para o Rio de Janeiro e não serve para o Maranhão, serve para o Maranhão mas não serve para Santa Catarina. Um município precisa aplicar, no mínimo, 25% do seu orçamento na educação. O governo neste ano destinou apenas 3,8 do orçamento para educação. A mesma coisa na saúde. Então, educação em todos os níveis. Tem que fazer uma base forte com ajuda da família. Hoje nós temos o exemplo de estudantes que vão fazer a prova do Enem e não sabem escrever uma redação. Vergonhosamente, saiu uma reportagem há um mês na Folha de S. Paulo com um relatório do MEC no qual aponta que, nos últimos dez anos, 30 mil escolas foram fechadas na área rural. Estão faltando mais de 300 mil professores de matemática e mais de 4 mil professores de português no ensino básico. Na saúde, o funcionário não é valorizado. O imposto para remédios no Brasil é de aproximadamente 30%. O remédio para quem precisa tem que ser desonerado, custo zero.

Acredita que o SUS é um bom modelo ou deve ser mudado?

Lamentavelmente, nós chegamos nesse caos. É aquilo que falei no início, não houve planejamento. Era previsível, a população cresceria e iria precisar de mais médicos aqui e acolá. Isso é desenvolvimento! Por que o ministério da educação nos últimos anos não liberou mais vagas em medicina? Porque lamentavelmente já tinha um comboio para poder privilegiar um governo ditador que não respeita os direitos humanos. É necessário planejar para o futuro.

O senhor conseguiria fazer uma reforma em dois anos?

Nessa reforma política a gente defende o fim do voto obrigatório, o fim das coligações proporcionais e a unificação das eleições. Isso para começar. Não adianta querer fazer uma reforma política radical. Tudo tem que ser feito com prazo e devagar, mas uma hora tem que fazer. Não é possível que lá no Congresso discutam a reforma política há quase 20 anos e ainda não aprovaram. Se a gente quer construir um Brasil realmente desenvolvido tem que haver planejamento. O governo é quem tem atrapalhado o brasileiro a se desenvolver.

Pretende continuar com o Bolsa-família se for eleito presidente?

Nós focamos o seguinte: vamos dar a bolsa-família para que as crianças sejam mantidas na escola. O nosso foco é a educação. Jamais vamos deixar os brasileiros com fome, dou a minha palavra, mas temos que estudar uma saída para isso.

Com Luana Lopes.

 

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