Dilma foi ingrata com Gilberto Carvalho
Leandro Mazzini
O ministro demissionário da Secretaria Geral do Planalto, Gilberto Carvalho, é o último ‘guardião’ da Era Lula dentro do Palácio. Fiel a ele, e não à presidente Dilma Rousseff – mostram os episódios das críticas a ela – Carvalho cumpriu com competência por 12 anos o seu papel de interlocução com os movimentos sociais, em especial o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o movimento dos sem-teto e dos catadores de lixo, entre outros.
O ministro foi também o principal braço da Igreja Católica dentro do governo, contornando situações que colocariam a gestão e o PT sob risco de perder o Poder. Em 2010, articulou uma frente suprapartidária evangélica para salvar a candidatura de Dilma ao Planalto, após um disse-me-disse (ela contribuiu) sobre a então candidata ser ou não ser a favor do aborto.
Destaca-se deste episódio a ingratidão da presidente eleita para com o 'ministro-olheiro'. Quando a campanha desandava contra ela em 2010 na etapa final, por declarações desencontradas sobre o direito ao aborto e a legalização ou não, Carvalho organizou uma caravana de importantes parlamentares para que percorressem o Brasil durante duas semanas antes do pleito em defesa da candidata do PT. José Serra (PSDB) disparava gradativamente nas pesquisas após a polêmica e ameaçava o projeto de Poder dos petistas.
O então vice-presidente da República, José Alencar, foi acionado e cedeu o seu jato Citation X. Nele viajou um séquito de elite do Parlamento, aliados do governo, em visitas às igrejas evangélicas, reconstruindo a imagem da presidente. Àquela altura, 5 milhões de folhetos apontando Dilma a favor do aborto já eram distribuídos por um movimento católico em capitais.
Os senadores Marcelo Crivella (PRB-RJ) e Magno Malta (PR-ES) capitanearam o time, incluindo deputados pastores, que percorreram os templos, enquanto o ministro Carvalho dialogava com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Passada a eleição, o resultado das viagens foi visto como fator contribuinte para a vitória de Dilma.
O ministro Gilberto Carvalho chamou este colunista de mentiroso, por ter publicado mês passado a decisão da presidente Dilma de demiti-lo após uma ríspida conversa. A reunião fora motivada por críticas de Carvalho numa entrevista à BBC à gestão da presidente. Carvalho negou veementemente a reunião e a demissão. E agora deixa o Palácio.
Ontem, foi confirmada a saída de Gilberto Carvalho do governo da presidente, comprovando o que a Coluna antecipou.