O caso Pr. Feliciano – Mulher acusa deputado de assédio sexual e recua
Leandro Mazzini
> Jovem acusa deputado de soco na boca e tentativa de estupro dentro do apartamento funcional
> Há registros de conversas em aplicativo de smartphone entre os dois
> Ela relata pressão de pessoas para que suma de Brasília e não faça B.O.
> Hoje, fora de Brasília e longe da família, ela recua misteriosamente e grava vídeo a favor de Feliciano (que depois é retirado do Youtube pela mesma)
O roteiro é um script instigador para uma investigação das Polícias Civil e Federal, pelo personagem envolvido. A Coluna já havia dado uma dica há uma semana.
Uma jovem estudante de Brasília, de 22 anos, militante da Juventude do PSC, acusa o deputado federal Pastor Feliciano (PSC-SP) de assédio sexual, agressão grave e tentativa de estupro. E entregou ao repórter há dias o que aponta como provas da tentativa ( veja abaixo ).
O enredo, os personagens e o que aconteceu até hoje o leitor vai saber agora. Acompanhado do advogado da Coluna, o repórter se encontrou com ela numa cafeteria no Sudoeste, na última quinta-feira à tarde, e ouviu o seguinte relato abaixo. O jornalista Emerson Biazon, que veio de São Paulo para orientá-la, foi testemunha:
Youtuber e famosa na internet ( tinha uma página no Facebook com mais de 200 mil seguidores, segundo conta, e que misteriosamente foi 'derrubada' do ar ), cristã e frequentadora da mesma igreja de Feliciano, ela viu o deputado-pastor se aproximar muito intimamente nos últimos meses. Passaram a ser amigos quando ele propôs ser seu guia espiritual.
APARTAMENTO FUNCIONAL
O episódio da agressão ocorreu, segundo a jovem, no apartamento funcional dele, na quadra 302 Norte na capital federal. Era manhã da quarta-feira dia 15 de junho em Brasília quando uma desconhecida tocou insistentemente a campainha da sala até ser atendida pelo inquilino, esbaforido e tenso.
A estranha disse que ouvira gritos e perguntou se estava tudo bem; ele acenou que sim, e ela errara a porta. O engano, porém, foi pertinente A vítima relata que era agredida e gritava por socorro – e se salvou de sexo à força. O agressor era, segundo ela, o deputado federal Marco Feliciano, pastor evangélico e propagandeado como um dos bastiões da moralidade familiar.
''Você está gritando muito!, vai embora!'', teria dito Feliciano.
Até o som da campainha, Feliciano a agredira com um soco na boca e puxões pelo braço para sua suíte, relata a jovem. Após ver negada a proposta de ela ser sua amante com alto salário e cargo comissionado no PSC, ele passou a agredi-la fisicamente. Tentou beijá-la após o soco, os lábios sangravam. Deixou-se arrastar para o quarto dele, segundo narra, com o medo de a situação piorar e por temer por sua vida, mas continuou lutando por sua dignidade, até a desconhecida aparecer na porta errada.
''Ele estava diferente, com os olhos vermelhos. Ele queria que eu terminasse com meu namorado e ficasse com ele'', explica a jovem.
OS DIÁLOGOS GRAVADOS
Poderia ser invenção de uma garota que tenta fama na internet com o caso, não fossem as transcrições entregues por ela.
Ela o procurou depois, e deu-se a seguinte conversa pelo aplicativo Telegram ( antes publicamos Whatsapp), em mensagens do celular que são atribuídas ao deputado Feliciano. Num encontro há semanas, segundo ela relata, ele pegou o seu celular à força e apagou todas as mensagens entre eles, mas a jovem conseguiu resgatá-las no ICloud de seu computador. Atualização, 5/8, 9h30 – Ela 'teclou' com ele no Telegram, por chat privado – quando o celular é configurado para que as mensagens se apaguem automaticamente em segundos ou minutos. Daí a plausibilidade da situação para o deputado se sentir seguro em digitar as frases, pensando que seriam apagadas.
( Vale ressaltar, dois funcionários do PSC confirmaram que o número do celular era o pessoal usado pelo pastor-deputado, que trocou de telefone há dias ):
Depois desta mensagem, segundo a garota, deu-se o seguinte diálogo pelo app ( a escrita atribuída a ele está na caixa branca )
Em outro momento do diálogo pelo app, de acordo com a jovem, Feliciano a mandou mais mensagens no celular, a provocando:
ASSÉDIO MORAL
Desde que decidiu denunciar o caso – nas trocas de mensagens com este repórter ela disse em momentos seguidos que não recuaria – a jovem se viu cercada pelas mais diversas pessoas com interesses não muito claros.
Ela procurou ajuda com importantes nomes do PSC, os quais a mandaram 'sumir', segundo conta. Até o caso chegar à Coluna, através de um amigo ex-professor.
Nos últimos cinco dias, os mais estranhos acontecimentos cercaram o cotidiano da jovem, que foi relatando tudo para este repórter pelo aplicativo: um homem do Rio ligou para ela, ciente da história, se apresentando como agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e perguntando quem a estava ajudando. Foi desmascarado quando a Coluna consultou a associação de servidores da Agência. Seu número de celular e seu nome – que por ora será preservado – estão nas mãos das autoridades.
A página dela no Facebook foi retirada do ar repentinamente – e ela teria recebido um alerta de assessores de Feliciano ( aqui, mais um mistério, há dois dias sua página voltou ao ar, e é por ela que a garota tenta se explicar após mudar de opinião ). Na quinta-feira, surgiu em Brasília vindo de São Paulo o jornalista Emerson Biazon, a pedido da mulher, para orientá-la. O advogado da Coluna foi testemunha.
SUMIÇO MISTERIOSO
A menina saiu de Brasília no sábado, e disse que precisava de um tempo, mas há informações de que ela continua assessorada por Biazon, que não deu mais notícias nos telefones que deixou com a Coluna, apesar das tentativas de contato nos últimos dois dias.
A jovem sumiu do radar de sábado até a madrugada desta terça, quando contatou o repórter e disse que estava bem – ela só retornou às ligações após coincidentemente o repórter procurar o assessor de Marco Feliciano ontem à noite.
A manhã desta terça-feira seria mais uma misteriosa do caso polêmico não fosse a atitude de um outro jornalista, que soube primeiro do episódio. Ciente de que ela sumira de Brasília, com o intuito de ajudar, segundo relata, e preservar a integridade da garota, seu ex-professor Hugo Studart publicou na sua página no Facebook o caso, nomeando Feliciano e citando as iniciais da garota – mais mistério, à tarde seu post foi tirado do ar, não foi ele.
Youtuber – como já citado – a garota enfim resolveu aparecer diante da polêmica. Vale lembrar que o professor em nenhum momento cita seu nome, embora revele a polêmica e nomeie o deputado. Mas para a surpresa de todos os envolvidos na história, a jovem gravou um vídeo de poucos segundos elogiando Feliciano e chamando o professor de mentiroso.
Confrontada pela Coluna diante de todo o histórico de mensagens trocadas com o repórter, e de testemunhas no encontro no café, e das evidências de provas passadas por ela à Coluna, a garota retirou o vídeo do ar .
RESPOSTAS
Atualização terça, 2, 20h41 – A Coluna entrou em contato com Talma Bauer, delegado civil licenciado de São Paulo e assessor de Feliciano. Ele disse que não conhece a garota, e que não havia agenda disponível hoje para conversa com o repórter sobre o caso. Avisado por e-mail para uma posição oficial do parlamentar, não respondeu a mensagem enviada na manhã desta terça (2). Às 20h30 enviou uma nota oficial:
''Informo que desconheço tais acusações e as referidas mensagens postadas. Conheço a jovem por meio de sua participação no PSC, é uma grande lutadora contra o aborto e a favor das causas sociais. A conheço da mesma forma que conheço tantos outros jovens ao meu redor''.
Segue a nota do assessor de Feliciano: ''Tenho uma honra ilibada e tais acusações são descabidas. Respeito minha família, o povo brasileiro e principalmente minha fé! E peço que assim o façam! Assim eu encerro tal assunto, deixando nas mãos das autoridades''. ( Detalhe: a jovem relatou à coluna que se encontrou com Bauer durante uma hora numa lanchonete em Brasília )
Há informações de que a garota tenta, agora, explicar sua versão para jornais e revistas. Por se tratar de um episódio grave envolvendo uma jovem e um conhecido parlamentar, muito votado, e com história ainda mal explicada, cabe às autoridades policiais tomarem a frente da situação para esclarecer à população.