Na mira do STJ, Zuleido Veras ressuscita a Gautama
Leandro Mazzini
Seis anos depois, o Superior Tribunal de Justiça marcou para dias 14 e 15 de Março sessões extraordinárias para análise do recebimento da denúncia da Operação Navalha da Polícia Federal, aquela que sepultou a empreiteira Gautama de Zuleido Veras famosa por fraudes em licitações, ofertas de propinas e obras inacabadas pelo Nordeste – Alagoas, Maranhão, Piauí e Sergipe.
Enterrou a empreiteira em parte. O empreiteiro continua a circular com desenvoltura pelos meios políticos e empresariais de Brasília falando da renovação da Gautama, que embora esteja inidônea no governo federal, planeja obras extras.
Nessa foto de 20 de Setembro de 2012, o empresário (ao centro) foi flagrado pelo repórter numa cafeteria da Asa Sul de Brasília, com dois contatos. Esboçou planos, previu faturamentos e contou piada sobre a época de cela na carceragem da PF. Uma agenda particular que desde o ano passado repete pelas hostes empresariais da capital. Zuleido tem dito que não foi julgado ainda porque toda a operação e inquérito foram armação contra ele.
O caso Gautama remete ao da Delta Construções. Sedes de maracutaias, ambas foram ‘abatidas’ em plena decolagem: com baixos preços e tomando espaços das grandes.
A DENÚNCIA
O STJ nesta primeira etapa mira 17 denunciados pelo Ministério Público Federal em casos do Sergipe – entre eles o próprio Zuleido. A relatora é a ministra linha dura Eliana Calmon.
Uma curiosidade é que o anúncio do STJ coincidentemente saiu nesta sexta, dia 1º, quando José Sarney deixou a presidência do Congresso. Como notório, os desdobramentos da investigação da Navalha derrubaram por tabela um apadrinhado seu, o então ministro de Minas e Energia Silas Rondeau, suspeito de receber R$ 100 mil de propina.
Longe de motivações políticas, depreende-se do caso judicial um alívio para Sarney: o processo foi desmembrado em 2010 para instâncias inferiores. Se o STJ abre espaço na agenda para a análise da denúncia enquanto o veterano político brilha no comando do Senado, voltaria aos holofotes a sua ligação com Rondeau e a suspeita sobre a atuação de seu filho, Fernando Sarney, de lobby nos bastidores do setor energético.
O senhor Fernando não figura entre denunciados, mas a desenvoltura com que desfilou junto ao escrete na mira da Justiça chama a atenção. Um ano antes de deflagrada a Navalha, ele foi alvo de outra operação da PF, a Boi Barrica, e sob ele pesam suspeitas de lavagem de dinheiro e crimes contra a ordem financeira. Interceptações telefônicas da PF foram consideradas ilegais pela Sexta Turma do STJ.