Coluna Esplanada

Arquivo : marlon reis

Os candidatos estão temerosos de prática criminosa, diz Márlon Reis
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Leandro Mazzini

marlon

Foto: UOL

Palavra do juiz eleitoral.

“Será eleição de campanhas enxutas. As pessoas estão temerosas de se associarem a uma possível prática criminosa”.

Este é o panorama de quem entende do assunto, o juiz Márlon Reis, do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, um dos idealizadores da Lei da Ficha Limpa.

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Juiz idealizador da Ficha Limpa torna-se doutor em Zaragoza
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Leandro Mazzini

Ex-vendedor de melancias na adolescência, violeiro de bar para pagar a faculdade na juventude, e magistrado principal idealizador da Lei da Ficha Limpa, o juiz Márlon Reis tornou-se Doutor pela Universidad de Zaragoza, na Espanha, há dias.

Nascido no Tocantins e criado no Maranhão, a saga de Márlon Reis tem a cara do brasileiro que supera adversidades e sofre para vencer na vida.

Leia aqui parte da sua trajetória. Foi a primeira reportagem do Blog em Janeiro de 2013. Ele revela como foi discriminado por colegas de togas e como uma freira, numa rodoviária, o ajudou a escolher o nome ‘Ficha Limpa’.


Idealizador da Ficha Limpa alerta para PMDB forte com eleições unificadas
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Leandro Mazzini

Foto: Divulgação

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O juiz Márlon Reis, idealizador da Lei da Ficha Limpa, tem levado um alerta a caciques políticos. O MCCE – Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral está de olho nas propostas de reforma política prometida pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha:

‘Quem ganha com a unificação das eleições? Só o PMDB. Com maior número de prefeituras, terá cabos eleitorais espalhados por todo o Brasil mobilizando votos para a presidência e governos’, sobre um dos pontos discutidos no pacote – a simultaneidade das eleições majoritárias e proporcionais.

Para Márlon, conhecedor dos meandros das eleições nos rincões, ‘ninguém lançará candidato a presidente ou a governador sem a bênção do partido de maior base municipal no Brasil’. Hoje, esse partido é o PMDB.


‘Querem que o CNJ atue como censurador’, diz magistrado sobre livro
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Leandro Mazzini

marlon

Foto: antoniocavalcantefilho.blogspot

País que luta e preza pela consolidação das instituições democráticas e liberdade de expressão, o Brasil vive uma situação sui generis.

O juiz Márlon Reis, um dos principais idealizadores da Lei Ficha Limpa, prepara sua defesa para apresentar ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Órgão criado para fiscalizar e disciplinar ações dos magistrados, inclusive punir, o Conselho se vê diante de curiosa denúncia feita pelo presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves (PMDB-RN): julgar a conduta do juiz sobre o livro ‘Nobre Deputado’, no qual Márlon narra bastidores do podre modus operandi de candidatos que se elegem para qualquer cargo através da corrupção.

Alves alega que ao não citar personagens reais e usar da ficção, o autor generaliza a denúncia e mancha a imagem do Congresso Nacional. Por seu lado, o magistrado defende-se: ‘Querem que o CNJ atue como censurador’, desabafa o juiz.

Márlon criou um personagem fictício, mas há quatro anos investiga mazelas do submundo da compra e venda de votos, e com dinheiro público, para eleger corruptos.

SÓ NO PAPO

O juiz diz que ainda não foi notificado pelo CNJ, mas prepara tranquilo sua defesa. Seu livro ganhou apoio de dezenas de políticos, mas nenhum deles assume publicamente..

BIOGRAFIA 

No site da coluna há biografia com curiosidades e revelações sobre o estudante ex-violeiro de bar, e vendedor de melancias, que se tornou ícone da magistratura eleitoral.

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CASERNA NAS RUAS

Mais da caserna nas ruas, sobre o monitoramento de movimentos sociais pelo Exército sob tutela do Alto Comando: uma prova de que os militares estão de olho na ebulição das ruas com Black blocs, sem teto e sem terra foi a frase do novo comandante do Comando Militar do Sudeste, General João Camilo Pires: ‘Temos a obrigação de evitar uma guerra civil sangrenta’.

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SOZINHO NO MUNDO 

lind

A executiva nacional do PT deixou sem caixa o diretório do Rio e magoa o candidato ao governo Lindbergh Farias (PT), reclamam os marqueteiros pelos cantos. Em baixa nas pesquisas e abandonado até pela presidente Dilma, Lindbergh quer ir à forra e acredita que os 4 minutos de TV a partir do dia 20 vão lhe garantir o segundo turno. Mas há quem diga no comitê que isso é maldade espalhada pela oposição.

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TRANSPARÊNCIA HERMANA

O Parlamento do Paraguai aprovou lei que obriga os executivos e funcionários de Itaipu, de seu lado, a divulgarem seus salários e benefícios na internet. Ok, feito. Falta o lado de cá, que não divulga os benefícios que aumentam, e muito, os ganhos dos funcionários e diretores.

DESINFORMAÇÃO É.. TUDO 

Uma pesquisa nas mãos do PMDB do Rio mostra que 23% dos fluminenses – grande parte deles da capital – ainda pensam que Sérgio Cabral é o governador.

EU, HEIN!

O Senado sedia exposição de fotos dos dois anos da Ascensão (leia-se morte) do Reverendo Sun Myung Moon, norte-coreano que deixou fiéis de sua seita pelo mundo e no Brasil, onde especula-se também ter deixado bilhões de reais em terras no Centro-Oeste.

VITALZINHO CAI-CAI 

Depois de puxarem seu tapete para nomeação no ministério da Integração, agora alguém quer derrubar, literalmente, o senador Vital do Rego (PMDB-PB). Mal sentou na sua cadeira ontem no plenário do Senado e ela quebrou, ele quase foi ao chão.

PARALEGAIS 

É comemoração do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em guerra com a OAB por causa do Exame e da carteirinha. A Câmara aprovou, em fase terminativa (sem ir a plenário), o projeto de lei 5.749/13, que cria a carreira dos Paralegais – os que não passam no Exame mas podem trabalhar como assistentes de colegas. Agora, o Senado.

O PESO DO PT 

Deve ser o peso do PT, que carrega nas costas há anos no Congresso. O senador Eduardo Suplicy foi visto ontem caminhando abatido e muito curvado, com indícios de escoliose, na quadra 309 Sul em Brasília. Suplicy disputa com José Serra e Gilberto Kassab a vaga para o Senado este ano. Pelo cenário, há grande chance de um destes dois pode lhe tirar o mandato.

FUGA EM MASSA 

a Médicos Sem Fronteira soltou comunicado de que não há segurança em Gaza nem para seus colaboradores. Israel está explodindo tudo o que vê pela frente.


Grupo que lançou Ficha Limpa se une por nova Reforma Eleitoral
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Leandro Mazzini

Marlon Reis, o idealizador da Ficha Limpa

Em nova frente popular e forte, o mesmo grupo que apresentou o projeto da Ficha Limpa (CNBB, OAB, MCCE, UNE, Maçonaria) lança hoje a Coalizão Democrática pela Reforma Política e Eleições Limpas. Vão apertar o Congresso, que bate cabeça.

À frente das 100 organizações civis está o juiz Marlon Reis, do MCCE – Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral. A partir de Quinta-feira, a ideia é convencer os parlamentares a incluir nos pacotes de reforma eleitoral o que interessa: ‘a proibição da doação empresarial e a racionalização do sistema eleitoral’ – itens que não entraram ainda na discussão dos projetos em tramitação na Câmara e no Senado.

“Chegamos ao esgotamento de um sistema. A sociedade não pode voltar às urnas sob um modelo eleitoral que privilegia candidatos financiados por empreiteiras e bancos e permite que o voto concedido a um seja aproveitado por outro candidato” – argumenta Marlon Reis. “Não há desculpas para que não haja mudanças efetivas já para 2014. É tudo uma questão de vontade política do Congresso”.

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Idealizadores da Ficha Limpa vão percorrer país para elaborar projeto de reforma política
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Leandro Mazzini

Edson (E) , Marlon e Aldo: Trio começa hoje viagens pelo Brasil

O Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) – que idealizou a Lei Ficha Limpa – inicia nova luta. Desta vez, vai elaborar um projeto de iniciativa popular de reforma política. Mas, ao contrário do movimento partidário do Congresso Nacional, que resolve entre paredes os pontos a serem analisados, um grupo apartidário ligado a estas entidades começa a partir de hoje a percorrer o país para ouvir demandas locais e consolidar um documento de consenso.

A decisão foi tomada na tarde desta terça (23) em Brasília, em reunião do MCCE em parceria com a OAB nacional e promotores eleitorais. O juiz Marlon Reis (um dos idealizadores do Ficha Limpa), o coordenador das Promotorias Eleitorais de Minas, Edson Rezende Castro, e o representante da OAB Aldo Arantes vão percorrer juntos as capitais para ouvir movimentos sociais, sindicais, patronais, federações de indústria, jovens etc.

“Vamos começar por Brasília (hoje), Rio, São Paulo e Curitiba, que já estão no roteiro”, diz Marlon Reis. “Nossa meta é retornar até fim de Maio com um parecer em que identificaremos os anseios de consenso”.

As viagens serão financiadas pelas entidades que participam do MCCE.

Em todos os locais, Marlon diz esperar o apoio da CNBB, da imprensa e das igrejas, como no caso do Ficha Limpa, cujo teor eclético de apoio popular levou ao sucesso da lei. Por atender a várias frentes, e não a grupos específicos como o Congresso, Marlon evita falar quais pontos podem entrar no documento. Mas sabe-se já que sugestões de sistemas de votação distrital, de financiamento público podem surgir.

Em tempo, a reforma política versão 2013, a exemplo de outras antigas, foi para a gaveta no Congresso. Espera-se, com esta mobilização, algo que a torne real.

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Idealizadores da Ficha Limpa preparam projeto de Reforma Política
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Leandro Mazzini

Marlon Reis

Marcus Vinícius

Vem aí uma nova força tarefa popular para pressionar o Congresso a mudar seu modus operandi de acordo com as necessidades populares – como  deveria ser numa democracia – e não apenas pelas conveniências corporativas.

Em reunião em Brasília nesta sexta-feira, ficou decidido que o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), o mesmo que concretizou a Lei da Ficha Limpa, vai lançar nova campanha, desta vez pela ampla reforma política – tema tabu para o Congresso. É coisa grande, pelo menos 20 entidades estão envolvidas num projeto de iniciativa popular, entre elas a Ordem dos Advogados do Brasil e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

À frente do projeto está o juiz Marlon Reis, um dos idealizadores da Ficha Limpa. Uma comissão de relatores apresenta minuta do projeto até Abril. O presidente da OAB, Marcus Vinícius Furtado, participou ativamente da reunião. Escalou pela Ordem os notórios Aldo Arantes e César Britto como representantes no grupo que esboçará o pacotão.

Segundo Marlon Reis, o “objetivo das entidades, integrantes do MCCE, é reunir todas as forças sociais para tirar o Congresso da imobilidade sobre a matéria”. Um ponto consensual já passa pela reforma eleitoral: Pessoas Jurídicas não podem ser doadoras de campanha. “A ideia é impedir que empresas interessadas em contratos públicos influenciem os processos eleitorais”.

Não é de hoje – digamos que desde que o Congresso é Congresso – que os nobres parlamentares evitam a todo custo e manobras votar algo que lhes prejudique em mandato conquistado: Foro, financiamento, formato de doações, fidelidade partidária etc. Em 2010, por duas vezes bateu na trave projeto que põe fim ao foro privilegiado: com a rapidez que entrou na pauta da Câmara, dela sumiu, reclamava o autor Marcelo Itagiba (PSDB-RJ). Temas pontuais ou pacotes que tratam de reforma política esbarram na má vontade de comissões que os engavetam ou na falta de habilidade de relatores.

As malsucedidas tentativas de décadas até hoje – ou a falta delas – só pioraram a visão da sociedade para o Parlamento. A ponto de o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, numa conversa de pé de ouvido com o recém-empossado presidente da Câmara, deputado Marco Maia, há três anos, ter dito a ele que só uma Assembleia Constituinte Exclusiva para reforma concretizaria o assunto. Num primeiro ensaio, Maia teve a fala atropelada pela trupe. E o assunto foi enterrado nos salões do Poder.

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Idealizador da Ficha Limpa, juiz foi ameaçado por colegas
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Leandro Mazzini

O apoio de um bispo ‘forrozeiro’, a freira da rodoviária que deu nome à lei, a perseguição de togados enciumados, as campanhas em carroceria de caminhão. Marlon Reis faz revelações sobre a origem da mais significante lei de iniciativa popular que fez do ex-boêmio violeiro o grande entusiasta do projeto. Este ano , a lei já barrou mais de 50 prefeitos eleitos. 

Aliedo

O roteiro da campanha era tão pitoresco que estava fadado ao fracasso: Como um juiz de primeira instância do interior do Maranhão – estado com mais baixo IDH do país e, a exemplo de outros, dominado por oligarquias políticas – conquistaria aliados para apresentar aos congressistas uma proposta de iniciativa popular que prejudicaria muitos deles, por suas biografias suspeitas? Pelo ‘exagerado otimismo’ de Marlon Jacinto Reis, o protagonista desse script. A gestação da Lei da Ficha Limpa se confunde com sua história. Na década de 90 o rapaz mulato, pobre, sem raízes nas esferas judiciais tinha tudo para virar um peão. Com espírito revolucionário, estudou e conquistou sua toga por mérito. Forjou na cabeça que não seria impossível neste século 21 quebrar resistências ao debate que acabou por aperfeiçoar a Lei de Inelegibilidades (1990). Seria sim muito difícil, e foi.

Nascido em Pedro Afonso (TO), filho de advogado bancário e uma dona de casa, Marlon Reis rodou o Brasil com os pais até se estabilizar no Maranhão em sua juventude, na década de 80. Aluno de escola pública, foi feirante quatro anos na capital São Luís vendendo melancias. Se hoje reconhece uma boa fruta pelo tom da casca verde, como diz, foi com a expertise de feirante que aprendeu a ter olhar malicioso para reconhecer um mau político pelo comportamento na banca. O mercado agora é outro.

Antes disso, a ingenuidade de estudante sonhador – e até na fase de juiz iniciante – o derrubou muitas vezes. Aos 18 anos na escola, mergulhou nas obras de Karl Max e liderou movimento estudantil. Depois peitou professor, ganhou antipatia do corpo docente na faculdade de Direito da UFMA. Fora dali, funcionário da Cervejaria Equatorial, fazia de um hobby um ganha-pão, literalmente, junto a goles de cerveja – tornou-se um boêmio tocador de violão num bar do ponto final do ônibus rumo de casa, na Forquilha. “Estudava de manhã e trabalhava à tarde e à noite. Fiquei reprovado um semestre inteiro”. A fase leninista-marxista durou pouco.

“Eu rompi tinha 20 anos de idade. Desde então nunca mais me aproximei de nada disso. Foi uma fase. Aprendi militância e ação coletiva. Não há arrependimento nenhum. Isso me propiciou três anos de crescimento intelectual, como por exemplo a tolerância para debater com alguém que tenha ideias opostas”, lembra.

Solta a frase num misto de experiência e ansiedade, para complementar como se numa sentença: “Aprendi muito o que era democracia”. Descobriu o mundo dos togados, que lhe revelou a cobiça, inveja, rasteiras mas também amizades e ajudas essenciais para sua biografia. Graduado, enfim trocou a cervejaria pela advocacia. Atuou por um centro de defesa dos direitos da criança. Pegou causas de indenizações “contra injustiçados”.  E na primeira, maior e mais visível de suas ações, no espírito do otimismo exacerbado que ele mesmo define, perdeu feio a defesa de uma jovem negra acusada de roubo pela direção de um shopping. Havia todas as provas de que era inocente. “Você vai perder porque a causa interessa a pessoas influentes”, revelou a ele um juiz à época. Eram meados dos anos 80, a capital São Luís crescia, o mercado em polvorosa com a chegada de grandes construtoras e centros comerciais, e não seria diferente ali: magistrados, políticos, empresários, todos se conheciam e se ajudavam.

Salto

Nesse ínterim, Marlon tornou-se assessor do Tribunal de Justiça do Maranhão, convidado por um juiz que o acompanhou na polêmica ação e gostara do texto de sua petição. Deixou a causa para amigos. “Nunca fui de guardar mágoa, mas nunca fui de puxar saco de ninguém”, adianta. Como nada sai barato na vida, foi acusado por um movimento negro de se vender. Ele não desistiu e acompanhou de perto o caso. “Anos depois o TJ reformou a sentença e foram pagos R$ 50 mil”, à vítima, explica.

Como assistente de magistrado, ganhou na loteria. Seu primeiro salário, de R$ 1,6 mil – uma fortuna para a época e na cidade -, o incentivou a estudar para o concurso. “Depois dobraram meu salário para R$ 3 mil. Minha vida era boêmia, mas nunca fui muito vaidoso. Eu tocava violão, estava sempre nas festinhas, gostava de música popular, compunha. Boa parte do meu dinheiro ia para isso”, se entrega. Dedicado nos estudos madrugada adentro, passou para cargo de juiz no Tocantins, mas desistiu da prova oral para tentar novo concurso no Maranhão, onde se estabelecera. O risco era total. Ganhou um presente de aniversário dia 10 de Dezembro de 1986: passara em terceiro lugar. E começou sua trajetória jurídica que o levaria a um encontro fortuito que mudaria sua vida, e a de muitos brasileiros.

Resistências e ameaças

O ano era de 1999. A Seleção Brasileira perdera a Copa, mas estava feliz. O presidente Fernando Henrique Cardoso se reelegera com folga e a economia ia bem, apesar dos primeiros sinais da crise internacional que respingaria por aqui. Naturalmente qualquer mandatário perguntaria o que mudar na legislação? Marlon e amigos promotores estavam insatisfeitos. Ressuscitou o espírito revolucionário da juventude, a ponto de bancar excursões pelo interior do Maranhão e Piauí, num trabalho voluntário nos fins de semana, de conscientização popular para barrar candidatos processados na Justiça. Ele não sabia, já iniciara a campanha da Ficha Limpa – muitas vezes sob a mira de olhares desconfiados e coldres escondidos. Os amigos subiam em carrocerias de caminhões, com caixa de som emprestada.

“Organizamos comícios, bairro por bairro, reunimos mais de 2 mil pessoas em praça, para pedir que denunciassem compra de votos”.

Ao passo que o povo adorava aquele novo tipo de comício – ninguém pedia voto ou prometia nada – o juiz comprou briga com boa parte dos tribunais dos dois estados. Os magistrados mais veteranos se enciumaram, mas também houve aqueles que o ameaçaram por serem ligados aos mandatários com processos. E volta aquela história: todos se conhecem.

“Por conta desse movimento fui vítima de uma grande incompreensão no Tribunal de Justiça”, revela Marlon. “Havia desembargadores que queriam que eu fosse afastado da magistratura, e diziam que minha atitude era política”.

Isso era pouco. Resistência e ciumeira há em qualquer profissão. Ironicamente passou a ser chamado de “Ovelhinha Negra” do TJ. “Chegou a haver um pedido de afastamento, mas a decisão não saiu. Respondi a muitos processos administrativos disciplinares. Nenhum deles tratava disso, mas tudo que acontecia comigo virava um processo. Eu era malvisto dentro da própria magistratura”. Isolado e decepcionado, já decidira deixar a carreira. Não fosse uma conversa com um bispo católico amigo, hoje talvez não teríamos a Ficha Limpa. Aconselhado a ficar, resistiu.

Mas as pancadas do malhete deixaram feridas. E a situação ganhou contornos preocupantes. “Eu não aguentava mais. Recebia ameaça de morte, telefonema com ‘olha, eu sei onde sua filha está’. Tudo que eu fazia se virava contra mim. Havia um juiz corregedor que amedrontava os juízes novatos, que quem se aproximasse de mim não seria vitaliciado, e recebia ameaças por conta do que isso causava a políticas partidárias”. Apoiou-se na família e nos amigos, com quem bebia para esquecer tudo.

Descobertas

Foi num desses encontros, em 2002, na pequena Santa Filomena, Sul do Piauí, que nasceu a ideia da Lei – muito além da Inelegibilidade – para enquadrar de fato políticos enrolados. Foi na mesa de boteco a primeira ata informal do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) – hoje são 330 comitês espalhados pelo país.

O MCCE cresceu, Marlon continuou a peregrinação por conta própria a cidades, e isso chamou a atenção da Igreja Católica. Um dia recebeu um telefonema, dom Dimas Barbosa, secretário-geral da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil o chamou. Encontraram-se numa festa Julhina, dom Dimas tocava um acordeão com jeito enquanto sussurrou para ele “precisamos conversar”, “vamos marcar”, “não, quem marca não faz nada”, “então vamos resolver agora” e assim seguiu o diálogo ao ritmo do arrasta-pé. A CNBB já preparava uma agenda política sobre inelegibilidade, as ideias se encontraram e a entidade apoiou o MCCE, as novas excursões de Marlon e equipe. Nascia a campanha para coleta de assinaturas para a Lei, e com aliado nacional de peso. Somaram-se depois dezenas de movimentos como a OAB e a grande imprensa, cruciais para a campanha.

O aniversário do juiz sempre foi marcante. No dia 10 de Dezembro de 2007 o MCCE iniciou para valer o projeto, que culminaria com a entrega do calhamaço com 1,3 milhão de assinaturas dia 29 de Setembro de 2009, no Congresso Nacional e com ampla repercussão. “Nosso maior objetivo sempre foi mobilizar as pessoas. Eu desafio qualquer outro movimento a demonstrar que fez um trabalho de base tão profundo quanto o nosso”, relata o juiz.

A campanha

A audácia do projeto trouxe desafios de igual tamanho.

Naqueles dois anos de coletas, foram centenas de viagens. Numa das primeiras cidades, em Barra (PI), o prefeito interpelado em praça pública no começo de 2008 pelo próprio Marlon se recusou a assinar a lista. Dois anos depois foi cercado pela Ficha Limpa. Aliás, ainda não havia o nome para a Lei, e sim apenas a “campanha pela vida pregressa proba dos candidatos a cargos políticos”. Numa dessas conversas para explicá-la, Marlon estava na rodoviária de Teresina à espera de um ônibus com uma freira, quando num lampejo ambos falaram em uníssono a expressão “Ficha Limpa”.

Houve muitas resistências Brasil adentro, nos rincões e nas capitais, o que nessas andanças fez o magistrado descobrir um coronelismo político desses novos tempos. No dia 4 de Junho de 2010, o então presidente Lula sancionou a Lei Complementar nº. 135. Evidentemente muitos partidos e políticos atingidos direta ou indiretamente chiaram por causa do impasse judicial quanto à aplicação em meio à campanha daquele ano – nenhuma lei pode retroagir e a interpretação era variada tribunais afora –, e só 16 de Fevereiro de 2012 a Lei da Ficha Limpa foi declarada constitucional pela maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Venceu a persistência. Pelo vaivém dos recursos , não se tem um número certo, mas fato é que a Lei barrou mais de 50 prefeitos eleitos no ano passado.

“Sou exageradamente otimista. Isso é uma coisa depõe contra mim. Qualquer pessoa normal deveria ter pensado umas quatro, cinco, dez vezes antes tocar um negócio desse tamanho”, ressalta, num tom de autoanálise. “Nunca me passou pela cabeça que não fosse dar certo. Depois da lei aprovada, gente que ajudou na campanha me procurou para falar que não acreditava”. E por fim desabafa, numa associação involuntária que lembra sua trajetória pessoal. “Nunca teve atalho nenhum, sempre foi da maneira mais difícil”.

Foram três horas de papo. Ele ficou com vontade de comer melancia.

Assista ao vídeo-depoimento em que fala das ameaças

 

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        Passo a passo

  • 18 de Maio de 1990 – Sancionada Lei Complementar nº 64, a Lei das Inelegibilidades
  • 29 de Setembro de 2009 – Entregue no Congresso o Projeto de Lei da Ficha Limpa.
  • 4 de Junho de 2010 – Presidente Lula sanciona a Lei Complementar nº 135/2010, a Lei da Ficha Limpa.
  • 16 de Fevereiro de 2012 – Maioria do plenário do STF declara a lei constitucional, sem retroatividade, respeitando a Carta.

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