Pré-candidatos usam o “timing” para explicar antecipação
Leandro Mazzini
A muito antecipada campanha eleitoral – e isso se repete há anos – me remete àquela máxima popular, a de quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha.
Adaptando isso ao cenário atual: quem incita a pré-campanha, a imprensa ou o candidato? Os dois lados, creio. Há uma cumplicidade na iniciativa, e todos justificam com a balela de que atendem a anseios populares ou de seus partidos. Ninguém assume o jogo. Nos bastidores, revelam que não podem perder o timing, palavra muito usada pelos americanos: o seu momento, a sua oportunidade.
E não bastassem os notórios e potenciais candidatos – em sua maioria mandatários de qualquer cargo – já surgirem a mais de um ano do pleito na sua TV, nos jornais, nas rádios, nas ruas com o disfarce de bons gestores mas em agenda ininterrupta de campanha, trazem a reboque a figura do marqueteiro, o guru das boas ações e dos bons modos.
Discretamente, consolida-se o trabalho de um staf extra-gestão, um comitê de crises, uma assessoria de imagem. Tudo direcionado à futura campanha, menos ao trabalho que o pré-candidato deveria administrar, para o qual foi eleito.
Cito exatamente três: Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, Dilma Rousseff (PT), presidente da República, e Aécio Neves (PSDB), senador por Minas Gerais.
Campos passou a rodar o país a partir de janeiro de 2012 articulando palanques locais e colocou o bonde na rua e a cara na TV. Precisa ficar conhecido e seu marqueteiro (falam em Antonio Lavareda) lançou o bordão ‘Podemos Mais’, na esteira do sucesso de Barack Obama, ‘Yes, we can’. Na terça, 22 de Outubro, baixou em Teresina (PI) para receber título de cidadão honorário (ninguém lá sabia a relação dele com a cidade). Três dias depois a presidente Dilma correu para a mesma capital, a fim de entregar certificados de curso profissionalizante. Para citar apenas um exemplo de como todos já se monitoram.
A presidente Dilma, reparem, entrou em campanha intensa. A gestora técnica, que mal saía dos Palácios, iniciou agenda de pelo menos duas viagens semanais há três meses, e manterá esse ritmo a fim de se reaproximar do povo do qual se afastou nos primeiros três anos de mandato. É a eterna ‘Mãe do PAC’. Pura campanha.
Aécio Neves não fica atrás. Mais discreto, porém com o mesmo intuito, viaja pelo interior do País com o bordão ‘E então, vamos conversar?’, obra do publicitário Renato Pereira, garimpado pelo tucano nas hostes de Sérgio Cabral no Rio. Sua ideia, já se vê pelas inserções do PSDB na TV e rádio, é minar a gestão petista mostrando defeitos em obras – ou a falta delas. Mas o PT também mira sua gestão em Minas como governador e a de seu antecessor. Maior porta-voz do partido no Estado, o deputado Reginaldo Lopes (PT), roda o Estado todos os fins de semana realizando audiências públicas para minar o tucano.
Com uma situação os três não precisam se preocupar. Projeto do senador Romero Jucá (PMDB-RR) no pacote da minirreforma eleitoral que passou no Senado e avança na Câmara permite aos políticos fazerem campanha nas redes sociais a qualquer tempo. Derruba o crime eleitoral para este tipo de propaganda. Tudo o que eles queriam. Não por acaso a presidente Dilma voltou para o Twitter com postagens diárias. Todas orientadas pelo marqueteiro João Santana.
Em recente entrevista à TV, na qual participei, Eduardo Campos comparou candidatos a produtos de prateleira. O provoquei: o senhor acredita em marqueteiro? Respondeu que não, mas conversa muito com Lavareda.
Estão todos em campanhas on-line. É que ninguém pode perder o timing.