Arlindo Cunha ou Eduardo Chinaglia? Dá no mesmo
Leandro Mazzini
Arlindo Cunha ou Eduardo Chinaglia? Dá no mesmo. A despeito da troca dos sobrenomes, são um só – a ordem da nomenclatura não altera o homem e seu cargo. Quem manda na Câmara é o Palácio do Planalto. Eles disputam, neste domingo, o direito de quem vai sentar às mesas palacianas para negociar o que desejam com a presidente Dilma Rousseff.
Seja quem for o eleito hoje, em Brasília, para o terceiro cargo mais importante do Brasil na hierarquia do Poder – atrás da presidente e do vice Michel Temer – vai degustar das benesses servidas pela Presidência da República, quem realmente controla o cardápio há décadas, e não será diferente desta vez.
Só há promessas de independência. E nada mais que isso. E desde que mundo é mundo, promessa não passa de promessa – em especial se tratando de política e políticos.
Um deles, Eduardo Cunha (PMDB) ou Arlindo Chinaglia (PT), vai fazer o jogo do Palácio. Há uma disfarçável independência da Casa Legislativa nos discursos de ambos (escancarada, na voz do peemedebista, e discreta, na do petista).
Mas quem comanda o jogo ali é a horda que grita veladamente, ou não, por cargos, emendas parlamentares e verbas extras vias ministérios para as obras em suas bases eleitorais – e tudo isso não virá da caneta de Chinaglia ou Cunha, mas de Dilma Rousseff e seus asseclas. E ponto.
O que está em jogo até este domingo, antes da eleição, na maratona de reuniões, almoços, jantares e promessas de Cunha e Chinaglia são as vantagens no varejo: o controle de uma comissão aqui, dez cargos comissionados num ministério ali etc. Vazam para a imprensa o que querem, e isso tornou-se tão natural do jogo do Poder que a fisiologia e os interesses pessoais nem causam mais espanto.
Os candidatos à Presidência da Câmara sabem que com essa turma se negocia no atacado – e quem manda nesse estoque é o depósito central, do outro lado da Praça dos Três Poderes. A dita independência do Legislativo Brasileiro é discurso repetido para a sociedade aplaudir. E nada mais.
O País assistirá a partir de hoje à derrocada desse discurso, gradativamente, no momento em que o petista ou o peemedebista subir ao trono e começar a visitar o Palácio. Vez ou outra trocarão recados pela imprensa de soberania dos Poderes e não ingerência, o papo furado de sempre. Tudo corre sob concessões, de ambos os lados, e acordos que se concretizam em votações no plenário.
E o brasileiro cairá na real de que nada mudou, por ora, quando o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) for reeleito para o comando do Senado Federal. Um detalhe, o PMDB pode repetir nas duas Casas a supremacia do controle dos dois últimos anos, e escantear o PT que já não é tão unido mais.
O jogo só mudará sob pressão popular. O ‘gigante’ acordou em Junho de 2013, bateu forte à porta do Congresso Nacional, assustou os inquilinos, mas.. voltou para casa e dormiu.
Mas há outro ‘gigante’ prestes a acordar. Ele está sendo despertado de seu sono pela operação Lava Jato, e deve bater às portas de gabinetes de parlamentares eleitos e não-eleitos em breve com pares de algemas a serem usadas. Esse Gigante atende pelo nome de Justiça.