Coluna Esplanada

Justiça ordena resgate de corpos no Araguaia e investigação de ossadas

Leandro Mazzini

A juíza Solange Salgado, da 1ª Vara Federal em Brasília, ordenou que o Grupo de Trabalho do Araguaia, da Secretaria de Direitos Humanos, agora sob coordenação do MP Federal, realize novas expedições à região Norte do Tocantins para resgatar os corpos de dois guerrilheiros mortos na década de 70.

É caso histórico. A revelação da localização das covas foi feita pelo Major Curió, o algoz da Guerrilha na ditadura, em depoimento revelado pela Coluna.

Após 40 anos, os parentes estão aliviados. Vão poder velar Antônio Theodoro Castro, codinome Raul, e Cilon Cunha Brum, o Simão.

Segundo relatos anteriores de camponeses à advogada Mercês Castro, irmã de Theodoro, eles teriam sido executados juntos, em abril de 1974, pelo Capitão Curió – e este só confessou a execução no depoimento há dias.

O GTA da SDH já havia sido informado das suspeitas sobre a localização dos corpos anos atrás, mas nada fez. A última expedição datada do grupo de pesquisadores e familiares foi em 2011.

REVELAÇÃO

Em seu depoimento à juíza na última quarta-feira, Curió admitiu que matou os dois guerrilheiros e que mandou enterrá-los exatamente no local indicado pelos camponeses a Mercês.

Disse ainda que os corpos não foram levados na chamada Operação Limpeza, de 1975. Ou seja, que ainda estão lá aguardando que alguém vá buscá-los.

INVESTIGAÇÃO

A juíza determinou também em outro despacho que a Polícia Federal investigue o vaivém e sumiço de ossadas de ex-guerrilheiros do Araguaia, levadas para Brasília em caixas após resgate nas expedições anteriores.

Essas caixas foram transportadas sem registros por ex-militantes e familiares dos mortos e desaparecidos, nos últimos anos, entre salas do Instituto Médico Legal de Brasília, Ministério da Justiça, Universidade de Brasília – e atualmente estão numa sala-cofre da Polícia Federal.

No início de 2013 a Coluna revelou que foram encontradas ossadas de duas crianças entre os esqueletos nas caixas. Foram desenterradas em um cemitério de Xambioá à revelia de autoridades por ex-militantes, numa das expedições. As crianças não tinham qualquer ligação com os mortos da Guerrilha, e o Governo preparou uma expedição para devolver os ossos.

A Justiça quer apuração sobre quem pegou essas ossadas em Xambioá e por que. Também pretende investigar a suspeita de sumiço dos ossos dos guerrilheiros João Carlos Hass Sobrinho e Líbero Giancarlo, o Dr. Juca. 

A decisão da magistrada é para o inquérito apurar quem extraviou os ossos, descobrir onde estão para emitir um mandado de busca e apreensão.

Entre os pontos da investigação, a SDH deve entregar dentro de um mês ao MPF a sistematização dos custos das expedições ao Araguaia em 1991, 1996, 2001 e 2011.