Milícia do Rio ameaça padre que acolhe refugiados em Brasília
Leandro Mazzini
Um padre polonês, famílias inteiras escondidas em Brasília, refugiadas do Rio de Janeiro; ameaças de mortes por mensagens de telefones, perseguição, intimidação; ministros e polícias envolvidos – polícia do bem e do mal. Esse é o script para um pequeno grupo que sobrevive sob o domínio do medo há meses, cujo cenário piorou nos últimos dias.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro investiga ameaças de morte ao padre polonês Pedro Stepien, que desde ano passado acolhe no Distrito Federal 15 pessoas de cinco famílias cariocas expulsas de um condomínio do 'Minha Casa, Minha Vida', em Campo Grande, Zona Oeste.
A região é controlada pela milícia chamada 'Liga da Justiça'. Os policiais milicianos invadiram e se apossaram de dezenas de apartamentos. Há relatos até agora de sete mortes de quem resistiu às ordens. E um homem entrou no programa de proteção a testemunhas, do governo do Estado.
E pelo ocorrido com o padre, os milicianos estão muito bem informados sobre os paradeiros das famílias na capital federal. As famílias também correm risco de vida.
Há três dias, o padre Stepien passou a receber mensagens ameaçadoras no seu celular, pelo aplicativo Whatsapp, e o caso chegou ontem ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. O ministro avalia pedir a Polícia Federal para entrar na investigação, pelo cenário envolver denúncias em um programa federal.
O religioso já entregou seu celular às autoridades. ''O que você está fazendo no Congresso? Não adianta pedir ajuda a político porque muitos nos devem favores'', registra a última mensagem recebida pelo padre.
O padre se recusa a participar do programa de proteção federal e deixar a capital. As famílias estão distribuídas em casas da Igreja em cidades satélites do DF e contam com doações de alimentos e assistência psicológica voluntária. O religioso as visita todos os dias.
O religioso também relatou a amigos que desde semana passada carros com placas do Rio de Janeiro têm rondado o bairro nas cidades satélites do DF onde as famílias estão refugiadas.
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O CERNE
Os milicianos passaram a persegui-los após audiência pública em novembro passado na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, na qual o padre denunciou a atuação da 'Liga da Justiça' na expulsão de moradores em condomínios do Minha Casa em bairros da Zona Oeste carioca.
Os investigadores desconfiam de que há interlocutores ou 'olheiros' da milícia morando em Brasília desde então. E com bom trânsito no Congresso Nacional. Numa das mensagens no celular do padre, dizem que o estão monitorando de perto, inclusive por telefone. E falam de ligações com deputados e senadores.
O caso chegou ao delegado Alexandre Herdy, chefe da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas da Secretaria de Segurança do Estado do Rio. Ele e o delegado Alexandre Capote, ex-diretor do órgão, estiveram com o padre Pedro Stepien em Brasília em novembro.
Os relatos tensos e atualizados foram comunicados também ao ministro das Cidades, Gilberto Kassab, pelo deputado federal Goulart (PSD-SP). Kassab prometeu levar a situação à presidente Dilma Rousseff.