Bancada de SP no Congresso reserva meio bilhão para TRE comprar sede
Leandro Mazzini
A grande São Paulo tem muitos problemas públicos, incontáveis que não cabem nestas linhas. Ano após ano, eleição após eleição, agentes políticos desfilam uma série deles na mídia, prometem soluções, e poucos resultados aparecem para a saúde na UTI, o transporte coletivo com ‘passageiros enlatados’, a segurança deficitária etc . O Estado também conta com 70 deputados federais para que apontem soluções, mas pelo visto a bancada federal paulista tem outras prioridades: com tantos problemas de moradia, um afago ao Judiciário, em especial juízes eleitorais e desembargadores federais.
É o que se depreende diante de dois casos da lista de emendas parlamentares da bancada de São Paulo. A emenda 71250010, aprovada no último dia 17, direciona nada menos que R$ 500 milhões (isso mesmo, meio bilhão de Reais) para que o Tribunal Regional Eleitoral de SP tenha uma nova sede. Trata-se de uma verba para adquirir dois edifícios recém-construídos, no total de 40.170m², na Av. Francisco Matarazzo, na Barra Funda. É o CGD Corporate Towers, cujo metro quadrado está saindo a R$ 12,4 mil!
A validade da emenda endossada pelos deputados paulistas é de Janeiro a Dezembro do ano que vem. Em suma, os desembargadores e juízes eleitorais poderão, em breve, serem presenteados com uma suntuosa sede dada por aqueles a quem fiscalizam. São os juízes e desembargadores eleitorais quem decidem sobre registros de candidaturas e eventuais cassações de políticos, vale lembrar.
Um dos prédios tem 20 andares e o outro, anexo, seis pavimentos. E o melhor, para uma cidade com trânsito tão saturado:1.135 vagas para veículos.
Vale a memória – estamos num País sem uma – do episódio grotesco do superfaturamento da sede do Tribunal Regional do Trabalho de SP, que mandou para a cadeia (em idas e vindas) o ex-senador e construtor Luiz Estêvão (novamente encarcerado, em Brasília) e o juiz Nicolau dos Santos Neto (fora da cela).
Obviamente estamos, neste episódio do TRE atual, diante de um caso apenas vultoso, curioso e de escancarado desrespeito dos parlamentares e Judiciário com o povo, diante de tantos problemas. Até que se prove o contrário, nada ilegal, mas amoral.
A Justiça nunca foi tão célere. Em causa própria.