O petróleo é deles
Leandro Mazzini
Eu estava lá, não entrei na euforia, já conhecia de longe a demasiada xenofobia oratória do presidente da República desde a fundação do PT. Mas lembro-me bem daquela noite de 2003 no Museu Histórico Nacional do Rio, em bela cerimônia, na qual o presidente recém-empossado Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a autossuficiência da Petrobras. Fogos, música, palmas e… passados dez anos, a petroleira continua a importar gasolina.
E a fuga das grandes petroleiras do leilão do pré-sal do campo de Libra revela algo curioso: ou ninguém concorda com a gestão de partilha, ou souberam algo sigiloso a tempo de pular fora.
Tanto Lula quanto a sucessora, a presidente Dilma Rousseff, entraram num jogo que mexe diretamente com o caixa da maior estatal brasileira: segurar o preço da gasolina (por motivos eleitorais e políticos, claro) em detrimento do lucro da empresa. E não foi diferente nos governos tucanos – talvez não seja em futuros, de qualquer partido. A petroleira sempre foi moeda de troca e ganhos políticos, e saberão por que abaixo.
A Petrobras perdeu valor bilionário de mercado, oscila entre lucros e prejuízos sucessivos. E os que ganham são poucos, muito poucos. Em 2008, uma revelação de ministro palaciano para este repórter me fez pensar se o petróleo é realmente nosso: em 2007, 62% dos dividendos da Petrobras foram pagos… na Bolsa de Nova York. Isso mesmo. Senti o drama na baixa tonalidade de voz e olhos esbugalhados do interlocutor. Não, o petróleo é deles, de qualquer investidor, menos nosso.
Poderia ser pior. Em abril de 2012, logo após assumir a presidência da Petrobras, Maria das Graças Foster fez a limpa nos cargos partidários na cúpula da estatal, com aval de Dilma. A presidente Dilma agiu rápido quando recebeu relatos de que a ingerência política era tão profunda quanto o prejuízo de valor de mercado que a estatal amargaria, hoje revelado. Pois a prospecção dilmista revelou que a petroleira era um poço de explorações partidárias que controlavam sob suspeição contratos bilionários. Três diretores ligados a três partidos (PT, PMDB e PTB) foram defenestrados. E engana-se quem ache que Dilma, conselheira da estatal desde Lula, não sabia disso. É que a situação piorou, e muito, e ela decidiu cortar esse duto. A situação era tão crítica que a diretoria internacional, que cuida de vultosos contratos de encomendas, era do PMDB e está vaga. Quem assumiu foi a própria Foster.
Enquanto isso, a petroleira sobrevive – em parte pelo mérito e dedicação de seus funcionários de carreira, que sobrevivem a desmandos de seguidos governos. Mas o atual decidiu polemizar mais. A Coluna Esplanada revelou, em julho deste ano, que, a mando de Dilma, Graças Foster criou grupo sigiloso de estudo para a concessão dos dutos da Petrobras. Os dutos são de operação da subsidiária Transpetro, que vende diretamente o combustível das refinarias para as distribuidoras e economiza no transporte rodoviário. O presidente da Transpetro, Sérgio Machado, não fala aos holofotes, mas é contra a concessão.
Entram na lista os três mais lucrativos dutos. Por eles passa boa parte do combustível vendido a distribuidoras do Sudeste, Centro-Oeste e Sul: o de Paulínea (SP)-Brasília, o do Paraná-Santa Catarina, e o do Recôncavo-Jequié, na Bahia. O duto Paulinea-Brasília é o mais lucrativo. Abastece o interior paulista, o triângulo mineiro, Goiás, Mato Grosso do Sul e DF. O negócio é tamanho que, só de impostos no Distrito Federal, a estatal paga cerca de R$ 60 milhões por mês.
A Petrobras tem 10 membros no seu poderoso conselho de administração, entre eles o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Gente da alta cúpula do governo que se reúne esporadicamente para fazer a empresa crescer. Pelo visto, não têm dado conta.