Coluna Esplanada

Arquivo : flávio dino

De: Glauber, 1966. Para: Dino, 2015
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Leandro Mazzini

Charge de ALIEDO - aliedo.blogspot.com

Charge de ALIEDO – aliedo.blogspot.com

‘Ele não filmou a minha posse, ele filmou a miséria do Maranhão, a pobreza, filmou as esperanças que nasciam do Maranhão, dos casebres, dos hospitais, dos tipos de ruas, e no meio de tudo aquilo ele colocou a minha voz, mas não a voz do governador. Ele modificou a ciclagem para que a minha voz parecesse, dentro daquele documentário, como se fosse a voz de um fantasma diante daquelas coisas quase irreais, que era a miséria do Estado’. Este é o depoimento de José Sarney, 60 anos de vida pública e mandatos, registrado na Wikipedia, sobre a experiência de ter pedido ao então amigo Glauber Rocha, reconhecido cineasta, o registro filmado de sua posse como governador do Maranhão em 1966.

Corta! Para 2011.

O avião da Azul decola do Aeroporto Internacional de São Luís – por culpa da Infraero, tendas mal fixadas cobriam o saguão em obras, e passageiros andavam na pista entre tratores que puxavam bagagens. O repórter sentou-se ao lado de uma mulher triste, cerca de 40 anos. Soluçava ininterruptamente embora tentasse esconder o choro.

Caiu em prantos ao ser indagada pelo jornalista do motivo: Revelou que não via a família há 14 anos, e voltara ao Maranhão para enterrar o pai, com passagem paga por amigos de Campinas, onde residia com marido e filhos. Chorava porque os sobrinhos, na despedida, imploravam com ela para tirá-los daquela situação de mazela, onde não frequentavam escola, bebiam água suja de poço, estavam doentes. E nada pode fazer. ‘Se eu pudesse eu trazia todos eles comigo’ – e continuou chorosa até o fim do voo.

Revi o filme de Glauber, e toda aquela ‘miséria’ narrada por José Sarney, cuja família dominou o Estado num script sem novidades por mais de 40 anos.

Corta! Para 2015.

Num momento de virada histórica, o comunista Flávio Dino superou toda uma campanha de desconstrução de sua imagem por parte do opositor bancado pela família Sarney. Ajudado pelo recall de votos de tentativas anteriores nas eleições, e pelo desgaste da família no Poder, Dino foi eleito como o governador da esperança, informalmente apontado nas ruas, e com a meta de fazer uma limpeza no Estado contra a suspeita de corrupção em vários órgãos.

Algo curioso. Sarney, em 66, também era o da esperança. Pelo visto, pouco, muito pouco fez. Um Estado belíssimo, com gente batalhadora e sofrida, o Maranhão continuou miserável, provam os índices. Inexplicável como não há estrutura maior e mais profissional de turismo no centro histórico da capital, idem nos Lençóis Maranhenses (Há poucos anos um hoteleiro trocou dois sobrados na Rua Portugal por um em Estoril, na Terra Mãe, porque o bairro estava um lixo, abandonado). Inexplicável como o porto, com o maior calado do Eixo Sul e excelente localização, não se mostra um grande concorrente na balança comercial em relação aos similares do Sudeste e Sul.

Dino se apoia agora, muito pertinente, na tentativa de enterrar o passado do clã e do ‘coronelismo’ que combateu na campanha, numa jogada que pode conotar marqueteira, ou eleitoreira, mas fundamental para a população se o resultado de fato melhorar: Este será o seu desafio com o Comitê Gestor do IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, tão criticado na imprensa quando o assunto é o Maranhão.

‘O grupo fica responsável por articular ações pela Educação, Saneamento Básico, Habitação, Produção Rural e Saúde Preventiva nas 30 cidades com menor IDH do estado. O plano é chamado de “Mais IDH”. Ações emergenciais como o mutirão pelo combate ao analfabetismo e ações preventivas na saúde estão previstas para 2015, como forma de atacar fortemente as desigualdades sociais’, informa a assessoria.

Um decreto simples, mas importante em se tratando do Maranhão, foi proibir a prática de dar nomes de pessoas vivas a bens e logradouros públicos (já existe lei federal, mas não obedecida). Sarney acaba de ganhar uma avenida em seu nome na cidade Arame. É comum encontrar pelo Estado ruas, avenidas e hospitais com nome de Roseana e do pai.

Quatro ou oito anos são pouco para mudar um Estado castigado por quatro décadas pela fome de poder e dinheiro de uma família e patota políticas, comprovou o noticiário nos últimos tempos.

Quem dera Glauber vivo, na posse do novo governador, registrando esse novo momento praticamente 50 anos depois. Mas seu fantasma estava ali na posse, observador, e perseguirá Flávio Dino até o fim de seu mandato. Caberá ao governador com seus atos fazer justiça ao filme queimado pelo primeiro protagonista.

CERVERÓ X SHERLOCK HOLMES

Duas perguntas sobre a prisão do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, ontem, no aeroporto do Galeão (Rio): o que ele fez por muitos dias em Londres, e em especial por que a Justiça autorizou a viagem, ciente de que o elemento já é alvo da Operação Lava Jato acusado de receber US$ 30 milhões em propinas.

Depreendem-se do episódio grotesco dois cenários: ou a Justiça e a Polícia Federal comeram mosca. Ou foi proposital, e Cerveró foi monitorado por agentes desde o embarque, durante sua agenda em Londres e até o retorno, quando foi algemado no Galeão. Disso pode surgir um roteiro interessante: a PF sabe o que ele fez e com quem se encontrou. Daí o pedido de nova investigação ser aberto.

Um detalhe, quem morou em Londres por quase um ano e atuou de lá como consultor foi o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci.


Renúncia de Roseana indica que não há trato com Dino
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Leandro Mazzini

roseana

Para os que propalavam acordo de bastidores entre o governador eleito Flávio Dino (PCdoB) e a atual, Roseana Sarney (PMDB), a renúncia dela ontem é prova de que o cenário começa a mudar, para valer, no Maranhão.

Roseana perde o foro privilegiado daqui um mês. De repente articula viagem de quatro meses para o exterior, para descanso, segundo amigos.

As investigações da Lava Jato chegaram a São Luís, onde assessor do Palácio foi flagrado com o doleiro Alberto Youssef em hotel. Há suspeita, ainda não confirmada, de que a governadora – que entrega o cargo na terça, 9, foi citada pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Costa como uma das autoridades que receberam propinas.


Roseana quer lei da transparência – no governo de Flávio Dino
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Leandro Mazzini

A governadora do Maranhão, Roseana Sarney, de saída daqui a menos de dois meses, enviou à Assembleia Legislativa uma mensagem (nº 76/2014) em que pede Lei da Transparência para a gestão estadual.

Mas só valerá para o próximo governo, do adversário eleito Flávio Dino (PCdoB). A informação foi publicada pelo blog de Luís Pablo.


Esplanadeira: O mico de Sarney com desembargadores e a saideira de Vargas
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Leandro Mazzini

‘Esplanadeira’ traz bastidores, denúncias, dicas, análises – as curtinhas do blog ao fim do dia:

TIRO NO PÉ (E NA BARRIGA)

O senador José Sarney quis ironizar ontem o candidato líder nas pesquisas para o governo do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) e atingiu em cheio uma categoria inteira (e poderosa). Sarney citou que Dino parece ter ‘uma barriga grande de desembargador’… Que será que os nobres togados barrigudos acharam disso?

SHOPPING VELÓRIO

Um clima de enterro marcou a Abrasce deste ano, o encontrão de donos de shoppings, em São Paulo. Os estrangeiros sumiram, e nos corredores, reclamações sobre a economia. ‘No Congresso de 2010, o clima era de euforia, a sensação era de que estávamos nos EUA’, conta um executivo.

SAIDEIRA

As ligações do deputado André Vargas com o PT estão oficialmente se encerrando para breve. A ministra do TSE Luciana Lóssio solicitou ao plenário do Tribunal data para julgar o pedido de expulsão do partido por infidelidade partidária.

TENSÃO

A duas semanas da eleição presidencial, os funcionários dos Correios de sete estados entraram em greve. São eles quem entregam as urnas eletrônicas para o pleito.


Congresso já barrou duas PECs de Constituintes para Reforma Política
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Leandro Mazzini

O Congresso Nacional já arquivou duas Propostas de Emenda à Constituição (PEC) sobre Constituinte Exclusiva para a reforma política, em 2007 e em 2010.

‘À época, acharam que era estratégia para o 3º mandato de Lula’, explica o ex-deputado Flávio Dino (PCdoB-MA), autor da primeira proposta.

A segunda, de Marco Maia (PT-RS), ‘foi pedido do então presidente Lula’, revela, mas parou na Comissão de Constituição e Justiça sem acordo. Mesmo depois de ser eleito presidente da Câmara, Maia não voltou a falar do projeto.

Maia lembra que apresentou a proposta 384/09 após conversa com o presidente Lula, no Palácio do Planalto. Sem qualquer pretensão de 3º mandato: Lula já previa a cobrança popular.

Dino, hoje presidente da Embratur, frisa que sua proposta (193/07) previa não só a reforma política, mas também a Tributária. ‘Resolveria muito do Fundo de Participação dos Estados’ em imbróglio hoje no Senado e entre governadores.

Com o apelo ontem e com discurso estratégico – mais bem feito que o da TV em rede na Sexta – a presidente Dilma Rousseff enquadrou os congressistas, tirou o foco da mobilização popular de seus ombros e passou para o Parlamento.

Por coincidência, na última Sexta, o deputado Alceu Moreira (PMDB-RS) apresentou outra PEC para a Constituinte Revisional. ‘É o momento propício’, diz o parlamentar.

Nesta quarta, há previsão de que milhares de manifestantes vão tomar o gramado em frente ao Congresso Nacional, segundo agendado pelas redes sociais. A priori, o protesto é contra o projeto da ‘Cura gay’, que passou na Comissão de Direitos Humanos, presidida pelo deputado pastor Marco Feliciano (PSC-SP).

Mas os protestos podem se estender também contra a tramitação da PEC 37 – que inibe ao MP poderes de investigações criminais – e terminar em cobrança aos congressistas pela reforma política.

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BOA IDEIA!

O Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral – o que criou a Ficha Limpa – entregou ontem na Câmara um projeto de lei por ‘Eleições limpas’. O pacote, de 17 páginas, prevê, entre outros, redução de custo de campanha, proibir o financiamento de empresas privadas e maior facilidade para participação popular na proposição de leis.

POLÊMICAS

Propostas polêmicas: Limita a contribuição individual do eleitor em R$ 700; prevê lista para escolha dos candidatos – que divide os partidos –, eleição em dois turnos para deputados e fim da justa causa para sair do partido (perseguição, por exemplo).

TORCIDA NUCLEAR

No jogo Japão x México no Mineirão, em BH, pelas Confederações no Sábado, três homens de jaleco azul com letras douradas, todos serelepes, chamavam atenção na arquibancada: CNEN – Comissão Nacional de Energia Nuclear..

FALTOU A HOLA!

Um manifestante no Mineirão foi aplaudido pela torcida que viu o cartaz com os dizeres: ‘Japão – troco pela sua classificação a sua Educação e Saúde’.

ELE AVISOU

Poucos meses antes de falecer, o ex-vice José Alencar soltou, baixinho, para este repórter: ‘O maior problema do Brasil é a impunidade’.

ESQUECERAM DE MIM

O senador Roger Pinto, oposicionista de Evo Morales, refugiado na Embaixada do Brasil em La Paz, mandou recado para o Congresso: ‘Se Bolívia diz que não há negociação secreta, então o chanceler Patriota estaria mentindo, coisa que não creio’.

PRA PLATEIA

Mal a presidente Dilma conclamou o Congresso a fazer a Reforma Política e as redes sociais já bombavam, à tarde, a volta dos jovens às ruas em todo o país. Em especial, para a frente do Congresso. Hora de comemorar e cobrar a realização.

ENQUANTO ISSO

Enquanto você estava no ônibus sem ar, na van paradeira ou enlatado no metrô, seu prefeito e governador chegavam e saíam de jatinhos em Brasília para a reunião com Dilma. Nenhum deles foi de voo comercial.

VAQUINHA AIR

Mas há também lotação política – para economia e pela boa convivência. O governador Omar Aziz (AM) e o prefeito Artur Virgílio (PSDB), de Manaus, ‘racharam’ jatinho.

FLIP NA ONDA

Organizada pela Revista Voto – Karim Miskulin e Marcos Troyjo – a Casa da Liberdade em Paraty, na Flip, vai debater os desafios da conjuntura socioeconômica.

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MISS COPINHO

Os jovens cada vez mais atentos. Em Teresina, estudante de medicina foi para a rua com cartaz: ‘Me chama de copinho, Firmino!’. É que o prefeito, Firmino filho, previa gastar R$ 5,8 milhões (isso mesmo!) em compra de copos descartáveis em licitação.

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PONTO FINAL

E a Dilma, hein!? Empurrou o povo para a porta do Congresso.