Na reforma ministerial, a autofagia Palaciana
Leandro Mazzini
A iminente ida de Aloizio Mercadante para a Casa Civil da Presidência da República pode transformar a esperada reforma ministerial de fevereiro numa autofagia palaciana entre os petistas. Desde o início do governo Dilma, há uma velada disputa entre os Lulistas e Dilmistas.
Um grupo dentro do partido defende a volta de Lula como candidato a presidente já este ano. Esses lulistas passam longe da maioria na legenda, mas são muito fortes. Para eles, Dilma não tem traquejo político e não sabe ouvir. E como consideram ter Mercadante o mesmo perfil da chefe, vislumbram que a interlocução palaciana com o PT tende a piorar.
Esse mesmo grupo articula para levar a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti (PT-SC) para o Ministério da Educação, tão logo saia dali Mercadante. E, para o lugar de Ideli, os Lulistas defendem Aldo Rebello (PCdoB), hoje nos Esportes. Mas Aldo sair da pasta em plena Copa do Mundo seria surreal, ou o plano petista para o comunista é fogo amigo.
Só as próximas semanas e as decisões da presidente vão mostrar se esses petistas têm poder ou vão ficar com as barbas de molho.
Os Lulistas acreditam que o ex-presidente não está morto eleitoralmente, apesar de o próprio negar a candidatura. Para eles, num cenário com Aécio Neves crescendo, Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (Rede) numa chapa em ascensão, e Dilma derrapando nas pesquisas, Lula volta. Falta combinar com o homem. Um detalhe, o propalado ministro do STF Joaquim Barbosa tem até abril para deixar a corte e se tornar um vice de Aécio Neves, como querem alguns tucanos. Neste caso, falta combinar com o togado. Vontade ele tem, mesmo sigilosa.
UM RIO DE INFLAÇÃO
É notório o insaciável modus operandi de empreiteiros para ganhar dinheiro com obras, mas ninguém esperava que não poupassem nem o Cristo. Vai sair por R$ 1,8 milhão a restauração da ponta do dedo da estátua do Redentor, no Rio, atingida por um raio semana passada. Por esse preço, até Deus duvida! O dinheiro é público (virá da Lei Rouanet, via Pirelli), para pagar a construtora contratada pela Arquidiocese do Rio, que caiu no conto dos engenheiros.
O Rio anda muito inflacionado, desde que foi anunciado sede da Copa do Mundo da FIFA e dos Jogos Olímpicos de 2016. Dois anos atrás, uma chef de cozinha visitou um restaurante e pagou uma ‘porção de ar’, postou no Facebook. Isso mesmo, veio discriminada na conta, porque a cliente ficou na área interna com ar condicionado.
Até a estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade sofre inflação. A Prefeitura do Rio informou já ter gasto mais de R$ 25 mil na restauração de uma pichação do ano retrasado e por reconstruir em bronze por duas vezes as hastes dos óculos, quebradas por vândalos. No fim do ano, outra pichação. Seriam mais uns R$ 3 mil de custos para a limpeza, mas um amigo do falecido, Herbert Parente, apareceu com pincel, lata de thinner e estopa, e limpou voluntariamente. Não gastou mais que R$ 50.
Nada mais plausível essa inflação gigantesca para uma cidade na qual quem puxa a inflação são os próprios órgãos de governo – e suspeitamente, claro. É coisa para o MP investigar. Em 2011, Estado e prefeitura deram R$ 4 milhões em patrocínios para o Athina Onassis Horse Show, na Lagoa. O Rio talvez seja a única cidade no mundo onde os cavalos de raça são melhor tratados que o cidadão nos postos de saúde.