Coluna Esplanada

Correios vão operar bases na China e EUA. Alibaba será parceiro

Leandro Mazzini

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Wagner Pinheiro. Foto: Divulgação

De olho no crescimento do comércio eletrônico de produtos – a maioria comprados por brasileiros hoje vêm da China e Estados Unidos – os Correios firmaram um memorando com a gigante de comércio eletrônico chinesa Alibaba, que acaba de abrir capital na bolsa no maior IPO da História. O objetivo é fazer frente a concorrentes num setor cada vez mais disputado, e dar celeridade às entregas, diz o presidente dos Correios, Wagner Pinheiro. ‘Pretendemos ter uma base na China para preparar a vinda de objetos, de produtos que o brasileiro compra’, diz o presidente.

Na esteira da mudança da marca, aos 350 anos, a estatal anuncia a entrada para valer no setor bancário, com atendimento do Banco Postal a pessoas físicas e jurídicas dentro de suas agências, e também no pessoal: gradativamente, os carteiros vão operar nas ruas com aparelhos nos quais poderão monitorar encomendas em tempo real.

Pinheiro reforça a negociação para a compra de 49,9% da Rio Linhas Aéreas, com o objetivo de criar a companhia aérea da estatal, sem descuidar da grande frota terrestre: a médio prazo, não será surpresa para a população ver diariamente as equipes de entregas com motonetas e carros elétricos. Revela que já conversa com as grandes operadoras de telefonia brasileiras para lançar o celular virtual, nos moldes do case de sucesso italiano, e lembra que a empresa se prepara desde já para a maratona que pode levar a estatal ao reconhecimento internacional, como operador logístico oficial dos Jogos Olímpicos de 2016. Leia mais nesta entrevista , concedida dia 27 de agosto e agora publicada, cujo resumo foi divulgado no programa Esplanada WebTV.

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O que motivou a mudança da marca , e o que significa para os Correios e para a população?

A nova marca é fruto de um processo que chamamos de revitalização dos Correios. A partir de uma mudança legal em 2011 realizada no Congresso Nacional (Lei 12.490), o governo ampliou o objeto social da empresa, podendo atuar em novos ramos de atividades. Com o objetivo de usar bem a sua presença nacional, a sua capilaridade e seu grande corpo funcional. Então hoje podemos trabalhar de maneira mais ativa o que chamamos de serviços postais eletrônicos.

Estamos ampliando muito a logística integrada, que é um trabalho que fazemos junto a empresas vendedoras de produtos e serviços da população de maneira que ajude no seu estoque, desde a fábrica até a entrega ao cliente. Com a aprovação da lei também pudemos ampliar nossa atuação no setor financeiro, e ao lado do Banco do Brasil estamos criando uma instituição financeira que oferecerá todos os serviços que uma instituição financeira oferece.

Então os Correios terão um banco?

Isso. Somos correspondente bancário hoje do BB. E ao lado do Banco do Brasil vamos criar um banco e oferecer todos os produtos, além da possibilidade de pagar contas, receber salários, benefícios de previdência; ter uma conta comum e você pegar um empréstimo pessoal, você vai poder fazer empréstimo consignado, empréstimo rural, capitalização , seguros…

Sob o guarda-chuva do BB. Por que o BB?

É o banco de quem somos correspondentes hoje em dia. Estudamos juntos a possibilidade dessa ampliação do serviço, e além de sermos correspondentes do BB, somos absolutamente uma empresa pública. É o Banco Postal.

E quando as agências do Banco Postal vão funcionar como banco? Haverá agências específicas?

Não, serão agências onde há agência dos Correios, ali dentro vai ter o Banco Postal, como é hoje. Em todas as nossas agências próprias temos ali o serviço de Banco Postal. Estamos num projeto piloto, oitenta agências trabalhando para que no máximo no início do ano a gente expanda para todo o Brasil. São mais de 6.500 agências, e entra junto a função da empresa pública. Temos mais de 1.600 municípios nos quais a única agência bancária é o Banco Postal, a agência dos Correios. E isso incrementa a economia, o comércio, ajuda a manter o dinheiro naquela comunidade.

Isso vai ao encontro do que o senhor falou, quando do lançamento da nova marca, sobre a redução das desigualdades regionais?

É nosso papel histórico de contribuir com a diminuição das desigualdades regionais. E junto com isso estamos ampliando o nosso trabalho em logística, para sermos uma grande empresa de logística, trabalhando para termos serviços postais eletrônicos. Vamos ter certificação digital, vamos ter uma prestação de correio digital para a população – na verdade para as empresas que necessitam dos Correios para que a gente encaminhe extratos bancários, contas de luz, telefone, cartão de crédito.

Vamos agregar valor a estes serviços procurando oferecer a um custo menor. É um projeto importante, vamos trabalhar ao lado da Valid, uma empresa de capital aberto dessa área de certificação e de soluções digitais, e em novembro ou dezembro já estaremos operando nos mercados.

O senhor diria que os Correios estavam ‘amarrados’ antes da aprovação da lei 12.490? Por exemplo, o CADE acabou de aprovar a compra de uma companhia aérea.

Nós teremos uma participação minoritária numa empresa aérea e o que vai nos ajudar é fortalecer esta parte de nossa infraestrutura de transporte de carga de maneira que a tenhamos o controle melhor, e uma segurança maior no transporte de carga em todo o Brasil. Podemos também operar no exterior. Estamos com um grupo de trabalho nos Estados Unidos atuando para que a gente tenha uma base para ajudar o exportador e importador brasileiro, ou o próprio cidadão brasileiro que compre aqui.

Firmamos um memorando de entendimento para trabalharmos juntos com a empresa chinesa Alibaba, que é uma grande de transporte e comércio eletrônico. Pretendemos ter uma base na China para preparar a vinda de objetos, de produtos que o brasileiro compra, e trazer para cá. Isso é o que tem por trás do que chamamos da nova marca, ela vem junto desses novos projetos que nascem a partir da mudança legislativa de 2011. Hoje em dia o mercado demanda muito a celeridade de entrega de produtos, o senhor tem vários concorrentes nacionais e internacionais, como no setor que envolve a compra eletrônica.

Assim que tiverem a fusão aprovada os senhores vão comprar mais aviões?

Teremos uma participação minoritária e o objetivo é sim comprar mais aeronaves, estamos inclusive em discussões com a Embraer que tem interesse enorme em ser nossa fornecedora. É uma empresa mundial de ponta, e já estamos em negociações com a Embraer no sentido de ampliar e modernizar a frota de aviões que a Rio Linhas Aéreas possui atualmente.

Já estão avançadas as negociações?

Com a Rio sim, mas com a Embraer não, há grande possibilidade (de compra)

Quantos aviões seriam necessários para atender a demanda ?

Certamente vamos ampliar. O primeiro passo será modernizar a frota aérea. Precisamos no plano de negócios ter aviões mais eficientes, que gastem menos combustível, que parem menos para manutenção, que a sejamos mais rápidos para competir no mercado que tem empresas nacionais, regionais, multinacionais.. é um mercado concorrencial. Não tem oligopólio. A gente disputa de maneira muito difícil com grandes empresas internacionais, mas somos líder de mercado para encomenda.

Eles têm sido mais ágeis?

Não na hora de entregar ao cliente, porque temos 95% de eficiência. Nós hoje trabalhamos firmes nesse mercado de encomendas . Tem empresa média, pequena,nacional, multinacional e tem os Correios que disputam esse mercado para atender a população, que é muito importante para nós.

Os Correios vão usar as agências conceito para ter um feedback do cidadão. Como será feita esta avaliação?

Nós temos uma agência conceito aqui em Brasília, no setor hoteleiro sul, e lá já temos um terminal de auto-atendimento: você pode comprar uma mercadoria de comércio eletrônico , você vai receber um torpedo com senha e contrassenha, vai ao local na data que informarem. Pode também despachar sozinho no auto-atendimento. O objetivo é no futuro colocar em locais de grande circulação para facilitar o acesso.

Sobre o Banco Postal, vai avançar. Há possibilidade de os correios terem caixa eletrônico 24h?

Não, no curto prazo não é a lógica.

Qual a grande novidade do Banco Postal a curto prazo?

O acesso a todos os serviços que o banco tradicional oferece. Pode ter crédito imobiliário, pode financiar uma casa; hoje já possui atendimento de crédito pessoal, mas pequeno. Estamos treinando os funcionários para isso, na universidade corporativa dos Correios, que tem formação cotidiana para todo nosso corpo funcional. O foco junto ao Banco do Brasil será a pessoa física que não possui acesso ao banco. Existem quase 50 milhões que não têm conta em banco. É uma coisa espantosa. É um mercado possível de ser alcançado.

Como é a interface dentro do governo com a Caixa? Vislubram a possibilidade de o Banco Postal, com o crescimento, se tornar um concorrente da Caixa e lotéricas?

Não creio que faremos concorrência. (A lotérica) é o correspondente bancário da Caixa como somos hoje em dia (Com o BB). Vamos ampliar o serviço. Não vamos delimitar os serviços. O cidadão vai poder brigar pelo preço menor para ele.

E o desafio de operar em parceria com organização dos Jogos Olímpicos?

Já estamos trabalhando diariamente com a organização das Olimpíadas no Rio, preparando nossa equipe, fazendo plano de negócios junto com a coordenação, e é um grande desafio e vamos cumprir como fizemos nos Jogos Panamericanos de 2007. Os Correios foram o operador logístico. As Olimpíadas são sete ou dez vezes maior que o Pan, mas é um primeiro passo para confirmar nossa capacidade de fazer nossa prestação de serviços. É um momento muito importante para o futuro dos Correios. Para que empresas de todo o mundo possam confiar no nosso trabalho de operador logístico.

Os Correios têm uma grande frota de veículos, mas há estudos para frota de carros elétricos. Isso será num futuro não muito longe?

É a nossa esperança. Entre carros, motos e caminhões são de 23 mil; 14 mil são motos. Já temos piloto com carro elétrico da Renault, piloto com motoneta elétrica, e a gente quer ter uma grande frota de carros e bicicletas elétricas. Trabalhamos em calçadões de grandes cidades do Brasil com uma espécie de minicontainer que o carteiro vai levando empurrando ou puxando, mas na verdade tem o motor elétrico. A questão ambiental é muito importante para nós. O carteiro usa o smartphone para atender a população e para rastrear objetos. Vai facilitar o trabalho e será mais ágil. Num trabalho de oito horas ele vai ganhar trinta minutos.

Naturalmente os Correios perderam volume de cartas com o advento da tecnologia.

É muito pouco o número de cartas pessoais remetidas pelos Correios. As encomendas crescem , puxadas pelo comércio eletrônico crescente , algo em 20% a 25% ao ano. E as cartas, ao contrário do que acontece nos EUA e Europa, onde caem 10% ao ano, aqui não caem, porque por conta da mudança sócio-econômica da população brasileira, tivemos mais de 30 milhões de pessoas que passaram a ter endereço próprio,conta de água, luz, telefone, abriram conta em banco. A queda não ocrorreu porque tivemos a inclusão no mercado consumidor nos últimos dez anos.

Há possibilidade de os Correios criarem uma companhia telefônica também?

Faremos em conjunto com o correio italiano , que tem uma empresa de telefonia virtual, toda a infraestrutura, tecnologia, know how, conhecimento. Tudo que existe no setor de telefonia. Vamos alugar, comprar de uma empresa de telefonia celular no Brasil. Uma das grandes, e já fizemos uma visita a eles; vamos comprar capacidade, e vender para as pessoas. É quase uma franquia, só com nosso nome.

E qual será a companhia que vai operar no Brasil com os Correios?

No Brasil a conversa será com uma das grandes. Vivo, Oi, TIM, Claro, eventualmente outra. Acreditamos em todas elas. Tivemos de parar o processo por três meses porque houve uma mudança nos Correios italiano , inclusive com a possibilidade de abertura de capital. O governo lá pensa em vender parte dos Correios ou até privatizar. Vamos voltar a conversar agora no início de outubro.