Coluna Esplanada

Wagner abre jogo sobre sucessão na Bahia
Comentários Comente

Leandro Mazzini

Divulgação ascom Gov. BA

A despeito das especulações sobre seu futuro , o governador Jaques Wagner, da Bahia, avisa: três nomes disputam sua sucessão hoje. São Rui Costa, Walter Pinheiro e José Sergio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras.

Mas é preciso unidade ‘em torno de um nome’. Wagner vai costurar isso até o final do ano, e anuncia quem será o candidato só em meados de 2014.

Ainda 2014, Jaques pretende se lançar à Câmara dos Deputados e negociará a vaga do Senado entre os aliados. Neste caso, é provável que não complete o mandato. A decisão final vai depender do perfil do seu candidato à sua sucessão e das conversas com a presidenta Dilma.



Por Aécio, FHC reúne banqueiros
Comentários Comente

Leandro Mazzini

Portal PSDB

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi quem deu a largada para a campanha tucana de 2014. Recentemente, reuniu banqueiros e os economistas ex-colaboradores de sua gestão na sinagoga da família Safra, na Rua Veiga Filho, em São Paulo. Depois, o pré-candidato Aécio Neves liberou o partido para buscar financiadores. José Serra foi escanteado. Sinal de alerta dado no Planalto, a presidente Dilma chamou para conversar os maiores patrocinadores do PT, como revelou a coluna ontem.

 CONVOCAÇÃO. Foi FHC quem convocou, com Aécio, os economistas Pedro Malan, Armínio Fraga e Edmar Bacha para reunião com o senador também no Rio.

 NINHO. Fernando Henrique será o cabeça. Montou um QG perto de casa em Higienópolis. Procurada por e-mail e telefone, a assessoria do Instituto FHC não retornou.

_______________________________

CONVENIÊNCIA. Os tambores da Bahia rufam pela conveniência na aproximação de Jaques Wagner e ACM Neto. Juntos, ambos isolam Geddel Vieira Lima, que almeja o Governo.

MEIA VOLTA, VOLVER

O Exército não tem informações oficiais sobre o caso, mas nas cidades-sedes da Copa de 2014 oficiais da reserva são convidados por comitês gestores do evento para treinamento de três meses, remunerado. Suas experiências são bem-vindas no setor de segurança estratégica.

MINHA CASA, SUA CASA

A presidente Dilma também recebeu no gabinete os executivos do Sinicon – Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada e da Lafarge, líder mundial de materiais de construção, presente em 60 países e no Brasil desde 1959.

LOTAÇÃO

Conta o deputado Molon (PT-RJ): Um deputado paulista em visita ao Rio decidiu pegar o Metrô até Ipanema. Viu a placa de Metrô-Superfície. Há anos longe da cidade, pensou encontrar um monotrilho, e se decepcionou com os ônibus lotados da Conexão.

ALIÁ$

As obras de expansão do Metrô Ipanema para a Barra da Tijuca custarão R$ 8 bilhões. Mais caras que o Eurotúnel sob o Canal da Mancha.

BLOCO DA INFLAÇÃO

 Corretor do Rio oferece imóveis para o Carnaval. O valor dos apartamentos, para cinco noites, varia de R$ 5 mil a R$ 12 mil.

CASA GRANDE & SENZALA

 O Ministério do Trabalho incluiu no cadastro de flagrantes do “Trabalho Escravo” a fazenda de Janete Riva, esposa do presidente da Assembleia do Mato Grosso, José Riva (PSD). O Pará lidera lista que com 410 propriedades flagradas.

FÉRIAS?, QUE NADA

 O deputado federal André Vargas (PT-PR) aproveitou férias em Salvador para fazer campanha para vice-presidente da Câmara. Ganhou apoio de Nelson Pelegrino (PT), João Carlos Bacelar (PR) e do ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli.

BRASIL LÁ FORA

Seguindo a tendência internacional, com cases de sucesso promovidos por França e Chile, a Embratur passou a priorizar ações próprias do Brasil no exterior, em vez apenas de participar de feiras, diz Flávio Dino, presidente da estatal.

LÁ FORA 2

“A Embratur promoveu 100 ações próprias e específicas: workshops, roadshows e press trips envolvendo os 17 mercados internacionais prioritários”. E cresceu 30% seus estandes em feiras ano passado, com 13% a mais de expositores.

BAIRRO DA REDE

O ministro da Pesca, Marcelo Crivella, entregou 40 casas para pescadores ontem em Alagoas. É o primeiro conjunto residencial do tipo no Brasil.

__________________________

PONTO FINAL. A Polícia prendeu ex-prefeitos no Espírito Santo. Faltam os outros 26 estados.

Siga a coluna no Twitter e no Facebook


Tucanos já não se entendem sobre escolha
Comentários Comente

Leandro Mazzini

O PT nada de braçada com a alta popularidade da presidente Dilma Rousseff, apesar dos entraves na economia. Já os tucanos começam a dar discretas bicadas no ninho.

Aécio Neves está numa encruzilhada. Há dois anos propalou que o PSDB precisava de prévias para escolher seu candidato ao Planalto. De um ano para cá, desconversou, e quer ser aclamado no partido. Agora é Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, quem pede as prévias. José Serra vai fazer o mesmo. E os tucanos começam a se bicar discretamente. De novo.

Aécio segue em boa relação com o governador Alckmin. Ambos querem escantear Serra para abrir caminho para 2014. Mas, tirando isso, não se afinaram para valer. Alckmin até tentou nomear Serra na Saúde, porém ele não quer.

Siga a coluna no Twitter e no Facebook


Câmara aprova reforma. Do plenário
Comentários Comente

Leandro Mazzini

Agência Câmara

Tema batido anos seguidos, reforma política já virou tabu para os parlamentares. Agora, o assunto é outro. Reforma estrutural. Do plenário.

A Câmara Federal vai gastar R$ 609 mil para comprar 539 tablets para os parlamentares. Vai dar briga. É que destes, 432 ficarão no plenário para o uso de 513 parlamentares (em caso de plenário lotado). Serão para consultas ocasionais a textos de projetos em votação.

Além disso, o carpete do plenário da Câmara será trocado. Segundo a Mesa Diretora, está ali surrado há 13 anos. Neste tempo, foi pisado por honestos e bandidos, e até acolheu ano passado uma.. calcinha que caiu do bolso de um deputado desatento.

A Casa começa 2013 repaginada, com velhos visitantes.

Siga a coluna no Twitter e no Facebook


Pesquisa: 20% dos municípios não pagam piso dos professores
Comentários Comente

Leandro Mazzini

O governo dá a ordem, mas nas cidades obedece quem quer.

A despeito do novo piso nacional dos professores definido pelo MEC, de R$ 1.567, pesquisa recente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) revelada pela coluna mostra que 20% dos prefeitos não pagam este valor. E dão de ombros.

A pesquisa da CNM ouviu 4.773 dos 5.563 prefeitos do país – 85,8% do total. Outro dado devastador: 75% dos que assumiram a administração há duas semanas descobriram o saldo no vermelho.

Siga a coluna no Twitter e no Facebook


Ministro quer digitalizar processos
Comentários Comente

Leandro Mazzini

O ministro da Integração, Fernando Bezerra (PSB), em reunião com gestores, revelou que pretende informatizar todo o sistema de processos para desburocratizar andamento de obras. Para isso, vai contratar empresa especializada.

A ideia de Bezerra é que todos os trâmites no ministério sejam virtuais, a exemplo de tribunais do Judiciário. Vai custar caro, mas deve acelerar resultados.

Siga a coluna no Twitter e no Facebook


Apresentação
Comentários Comente

Leandro Mazzini

 Meu pai me queria aviador. Minha mãe sonhava ter-me um médico. Eu aspirava ser alguém e decidi ser um homem da Palavra. E de palavras.

Na verdade não os decepcionei. Sou um pouco de cada. Piloto o meu avião da liberdade de expressão, com prudência, e empunho a caneta como um bisturi, para sacrificar o papel e parir as apurações.

Graduei-me me jornalismo porque quero ser escritor, sonho de adolescente. Desde então descubro no exercício dessa nobre profissão senão um caminho para o sonho, o meio para desbravar o mundo e seus personagens. E fazer de cada dia um aprendizado.

Antes de repórter, na ânsia de ter meus ganhos próprios fui office-boy de oficina mecânica, estagiário de banco por quatro anos, gerente de posto de gasolina à beira da BR-116 e operário gráfico. A despeito dessas experiências, sempre fui um  jornalista: aprendi a observar, a apurar, a contar histórias e principalmente a respeitar o ser humano, sem perder o tom crítico, sarcástico ou denuncista – quando necessário – com a devida responsabilidade.

Revelo-me jornalista de 1994 para cá. Com a certeza de que vivo a intensidade da profissão com a paixão do jogador que entra em campo e comemora cada reportagem como um gol, ciente de que neste ''jogo'' entre o repórter e a notícia há também quedas, dribles, e substituições. E, claro, o leitor na plateia com seu grito. Eu os prezo muito.

Assim, passei por algumas redações, entre elas o JB e Gazeta Mercantil, em ambos fui colunista e repórter.

Política é um assunto chato para muitos, mas um tema intrínseco ao grande circo sem lona da vida. Você não sabe, mas é político em seus estudos, em suas escolhas, na definição de seus afazeres. Max Weber dizia isso. E tenho comigo que o jornalista político precisa de três livros de cabeceira: a gramática, para saber escrever; a Constituição, para ter respaldo sobre o que escreve; e a Bíblia, para rezar pelas consequências.

Aqui neste espaço vocês encontrarão notícias dos bastidores ou informações relevantes dos Três Poderes de Brasília, fruto da Coluna Esplanada que produzo de Terça a Domingo.

Publicarei também charges semanais de Aliedo – um grande chargista, ex-Pasquim e JB – com histórias pitorescas vividas por políticos (aquelas que eles não contam). Vez em quando Evandro Teixeira, um dos mais renomados fotojornalistas do país, vai colaborar com uma imagem inédita sua. Semanalmente, na seção Esplandeira vou publicar fotos minhas de Brasília, cidade que amo, para mostrar que a capital vai muito além de Poder & Concreto. E esporadicamente publicarei uma croniqueta deste aprendiz de escriba.

Meu site pessoal é este 

Em tempo, não estou no Facebook, Orkut e Twitter. A coluna está Twitter e no Facebook


Dilma chama patrocinadores para 2014
Comentários Comente

Leandro Mazzini

Roberto Stuckert Filho-PR

A disputa presidencial por 2014 já começou. Pelo menos nas finanças.

Não foi apenas para tratar do desenvolvimento do país que a presidente Dilma convidou para conversas os presidentes da Cosan, Vale, Bradesco e Odebrecht, na quinta e sexta-feira. De diferentes e lucrativos setores, eles são os maiores financiadores do PT e ela quer garantias de que manterão compromisso com sua gestão e o partido. Juntos, esses quatro grupos doaram oficialmente R$ 12,08 milhões para o PT em 2010, levantou a coluna. A agenda de Dilma tem motivo. Aécio Neves, o pré-candidato do PSDB, pediu aos economistas tucanos em Dezembro que procurem estes patrocinadores. Foi dada a largada para a disputa presidencial de 2014.

DA USINA. A Cosan, grupo usineiro, doou a bagatela de R$ 3,65 milhões para o PT nacional em 2010. Para o PSDB, repassou R$ 1,4 milhão.

DO BANCO. O Bradesco, segundo maior banco privado, repassou para os petistas R$ 1,66 milhão. Para o PSDB nacional, R$ 575 mil, e para o tucanato paulista e paranaense, R$ 750 mil.

DO CONCRETO. Maior empreiteira em atividade, a Odebrecht deu R$ 2,4 milhões para cada um, PSDB e PT nacionais. Para tucanos de Minas, estado de Aécio, foram mais R$ 200 mil.

GENEROSA. A mais generosa foi a Vale Fertilizantes. Foram R$ 2,05 milhões apenas para o PSDB mineiro. Mais R$ 1,45 milhão para o PSDB nacional e R$ 4,37 milhões para o PT.

Siga a coluna no Twitter e no Facebook


Idealizador da Ficha Limpa, juiz foi ameaçado por colegas
Comentários Comente

Leandro Mazzini

O apoio de um bispo 'forrozeiro', a freira da rodoviária que deu nome à lei, a perseguição de togados enciumados, as campanhas em carroceria de caminhão. Marlon Reis faz revelações sobre a origem da mais significante lei de iniciativa popular que fez do ex-boêmio violeiro o grande entusiasta do projeto. Este ano , a lei já barrou mais de 50 prefeitos eleitos. 

Aliedo

O roteiro da campanha era tão pitoresco que estava fadado ao fracasso: Como um juiz de primeira instância do interior do Maranhão – estado com mais baixo IDH do país e, a exemplo de outros, dominado por oligarquias políticas – conquistaria aliados para apresentar aos congressistas uma proposta de iniciativa popular que prejudicaria muitos deles, por suas biografias suspeitas? Pelo ‘exagerado otimismo’ de Marlon Jacinto Reis, o protagonista desse script. A gestação da Lei da Ficha Limpa se confunde com sua história. Na década de 90 o rapaz mulato, pobre, sem raízes nas esferas judiciais tinha tudo para virar um peão. Com espírito revolucionário, estudou e conquistou sua toga por mérito. Forjou na cabeça que não seria impossível neste século 21 quebrar resistências ao debate que acabou por aperfeiçoar a Lei de Inelegibilidades (1990). Seria sim muito difícil, e foi.

Nascido em Pedro Afonso (TO), filho de advogado bancário e uma dona de casa, Marlon Reis rodou o Brasil com os pais até se estabilizar no Maranhão em sua juventude, na década de 80. Aluno de escola pública, foi feirante quatro anos na capital São Luís vendendo melancias. Se hoje reconhece uma boa fruta pelo tom da casca verde, como diz, foi com a expertise de feirante que aprendeu a ter olhar malicioso para reconhecer um mau político pelo comportamento na banca. O mercado agora é outro.

Antes disso, a ingenuidade de estudante sonhador – e até na fase de juiz iniciante – o derrubou muitas vezes. Aos 18 anos na escola, mergulhou nas obras de Karl Max e liderou movimento estudantil. Depois peitou professor, ganhou antipatia do corpo docente na faculdade de Direito da UFMA. Fora dali, funcionário da Cervejaria Equatorial, fazia de um hobby um ganha-pão, literalmente, junto a goles de cerveja – tornou-se um boêmio tocador de violão num bar do ponto final do ônibus rumo de casa, na Forquilha. “Estudava de manhã e trabalhava à tarde e à noite. Fiquei reprovado um semestre inteiro”. A fase leninista-marxista durou pouco.

“Eu rompi tinha 20 anos de idade. Desde então nunca mais me aproximei de nada disso. Foi uma fase. Aprendi militância e ação coletiva. Não há arrependimento nenhum. Isso me propiciou três anos de crescimento intelectual, como por exemplo a tolerância para debater com alguém que tenha ideias opostas”, lembra.

Solta a frase num misto de experiência e ansiedade, para complementar como se numa sentença: “Aprendi muito o que era democracia”. Descobriu o mundo dos togados, que lhe revelou a cobiça, inveja, rasteiras mas também amizades e ajudas essenciais para sua biografia. Graduado, enfim trocou a cervejaria pela advocacia. Atuou por um centro de defesa dos direitos da criança. Pegou causas de indenizações “contra injustiçados”.  E na primeira, maior e mais visível de suas ações, no espírito do otimismo exacerbado que ele mesmo define, perdeu feio a defesa de uma jovem negra acusada de roubo pela direção de um shopping. Havia todas as provas de que era inocente. “Você vai perder porque a causa interessa a pessoas influentes”, revelou a ele um juiz à época. Eram meados dos anos 80, a capital São Luís crescia, o mercado em polvorosa com a chegada de grandes construtoras e centros comerciais, e não seria diferente ali: magistrados, políticos, empresários, todos se conheciam e se ajudavam.

Salto

Nesse ínterim, Marlon tornou-se assessor do Tribunal de Justiça do Maranhão, convidado por um juiz que o acompanhou na polêmica ação e gostara do texto de sua petição. Deixou a causa para amigos. “Nunca fui de guardar mágoa, mas nunca fui de puxar saco de ninguém”, adianta. Como nada sai barato na vida, foi acusado por um movimento negro de se vender. Ele não desistiu e acompanhou de perto o caso. “Anos depois o TJ reformou a sentença e foram pagos R$ 50 mil”, à vítima, explica.

Como assistente de magistrado, ganhou na loteria. Seu primeiro salário, de R$ 1,6 mil – uma fortuna para a época e na cidade -, o incentivou a estudar para o concurso. “Depois dobraram meu salário para R$ 3 mil. Minha vida era boêmia, mas nunca fui muito vaidoso. Eu tocava violão, estava sempre nas festinhas, gostava de música popular, compunha. Boa parte do meu dinheiro ia para isso”, se entrega. Dedicado nos estudos madrugada adentro, passou para cargo de juiz no Tocantins, mas desistiu da prova oral para tentar novo concurso no Maranhão, onde se estabelecera. O risco era total. Ganhou um presente de aniversário dia 10 de Dezembro de 1986: passara em terceiro lugar. E começou sua trajetória jurídica que o levaria a um encontro fortuito que mudaria sua vida, e a de muitos brasileiros.

Resistências e ameaças

O ano era de 1999. A Seleção Brasileira perdera a Copa, mas estava feliz. O presidente Fernando Henrique Cardoso se reelegera com folga e a economia ia bem, apesar dos primeiros sinais da crise internacional que respingaria por aqui. Naturalmente qualquer mandatário perguntaria o que mudar na legislação? Marlon e amigos promotores estavam insatisfeitos. Ressuscitou o espírito revolucionário da juventude, a ponto de bancar excursões pelo interior do Maranhão e Piauí, num trabalho voluntário nos fins de semana, de conscientização popular para barrar candidatos processados na Justiça. Ele não sabia, já iniciara a campanha da Ficha Limpa – muitas vezes sob a mira de olhares desconfiados e coldres escondidos. Os amigos subiam em carrocerias de caminhões, com caixa de som emprestada.

“Organizamos comícios, bairro por bairro, reunimos mais de 2 mil pessoas em praça, para pedir que denunciassem compra de votos”.

Ao passo que o povo adorava aquele novo tipo de comício – ninguém pedia voto ou prometia nada – o juiz comprou briga com boa parte dos tribunais dos dois estados. Os magistrados mais veteranos se enciumaram, mas também houve aqueles que o ameaçaram por serem ligados aos mandatários com processos. E volta aquela história: todos se conhecem.

“Por conta desse movimento fui vítima de uma grande incompreensão no Tribunal de Justiça”, revela Marlon. “Havia desembargadores que queriam que eu fosse afastado da magistratura, e diziam que minha atitude era política”.

Isso era pouco. Resistência e ciumeira há em qualquer profissão. Ironicamente passou a ser chamado de “Ovelhinha Negra” do TJ. “Chegou a haver um pedido de afastamento, mas a decisão não saiu. Respondi a muitos processos administrativos disciplinares. Nenhum deles tratava disso, mas tudo que acontecia comigo virava um processo. Eu era malvisto dentro da própria magistratura”. Isolado e decepcionado, já decidira deixar a carreira. Não fosse uma conversa com um bispo católico amigo, hoje talvez não teríamos a Ficha Limpa. Aconselhado a ficar, resistiu.

Mas as pancadas do malhete deixaram feridas. E a situação ganhou contornos preocupantes. “Eu não aguentava mais. Recebia ameaça de morte, telefonema com ‘olha, eu sei onde sua filha está’. Tudo que eu fazia se virava contra mim. Havia um juiz corregedor que amedrontava os juízes novatos, que quem se aproximasse de mim não seria vitaliciado, e recebia ameaças por conta do que isso causava a políticas partidárias”. Apoiou-se na família e nos amigos, com quem bebia para esquecer tudo.

Descobertas

Foi num desses encontros, em 2002, na pequena Santa Filomena, Sul do Piauí, que nasceu a ideia da Lei – muito além da Inelegibilidade – para enquadrar de fato políticos enrolados. Foi na mesa de boteco a primeira ata informal do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) – hoje são 330 comitês espalhados pelo país.

O MCCE cresceu, Marlon continuou a peregrinação por conta própria a cidades, e isso chamou a atenção da Igreja Católica. Um dia recebeu um telefonema, dom Dimas Barbosa, secretário-geral da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil o chamou. Encontraram-se numa festa Julhina, dom Dimas tocava um acordeão com jeito enquanto sussurrou para ele “precisamos conversar”, “vamos marcar”, “não, quem marca não faz nada'', ''então vamos resolver agora” e assim seguiu o diálogo ao ritmo do arrasta-pé. A CNBB já preparava uma agenda política sobre inelegibilidade, as ideias se encontraram e a entidade apoiou o MCCE, as novas excursões de Marlon e equipe. Nascia a campanha para coleta de assinaturas para a Lei, e com aliado nacional de peso. Somaram-se depois dezenas de movimentos como a OAB e a grande imprensa, cruciais para a campanha.

O aniversário do juiz sempre foi marcante. No dia 10 de Dezembro de 2007 o MCCE iniciou para valer o projeto, que culminaria com a entrega do calhamaço com 1,3 milhão de assinaturas dia 29 de Setembro de 2009, no Congresso Nacional e com ampla repercussão. “Nosso maior objetivo sempre foi mobilizar as pessoas. Eu desafio qualquer outro movimento a demonstrar que fez um trabalho de base tão profundo quanto o nosso”, relata o juiz.

A campanha

A audácia do projeto trouxe desafios de igual tamanho.

Naqueles dois anos de coletas, foram centenas de viagens. Numa das primeiras cidades, em Barra (PI), o prefeito interpelado em praça pública no começo de 2008 pelo próprio Marlon se recusou a assinar a lista. Dois anos depois foi cercado pela Ficha Limpa. Aliás, ainda não havia o nome para a Lei, e sim apenas a “campanha pela vida pregressa proba dos candidatos a cargos políticos”. Numa dessas conversas para explicá-la, Marlon estava na rodoviária de Teresina à espera de um ônibus com uma freira, quando num lampejo ambos falaram em uníssono a expressão “Ficha Limpa”.

Houve muitas resistências Brasil adentro, nos rincões e nas capitais, o que nessas andanças fez o magistrado descobrir um coronelismo político desses novos tempos. No dia 4 de Junho de 2010, o então presidente Lula sancionou a Lei Complementar nº. 135. Evidentemente muitos partidos e políticos atingidos direta ou indiretamente chiaram por causa do impasse judicial quanto à aplicação em meio à campanha daquele ano – nenhuma lei pode retroagir e a interpretação era variada tribunais afora –, e só 16 de Fevereiro de 2012 a Lei da Ficha Limpa foi declarada constitucional pela maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Venceu a persistência. Pelo vaivém dos recursos , não se tem um número certo, mas fato é que a Lei barrou mais de 50 prefeitos eleitos no ano passado.

“Sou exageradamente otimista. Isso é uma coisa depõe contra mim. Qualquer pessoa normal deveria ter pensado umas quatro, cinco, dez vezes antes tocar um negócio desse tamanho”, ressalta, num tom de autoanálise. “Nunca me passou pela cabeça que não fosse dar certo. Depois da lei aprovada, gente que ajudou na campanha me procurou para falar que não acreditava”. E por fim desabafa, numa associação involuntária que lembra sua trajetória pessoal. “Nunca teve atalho nenhum, sempre foi da maneira mais difícil”.

Foram três horas de papo. Ele ficou com vontade de comer melancia.

Assista ao vídeo-depoimento em que fala das ameaças

 

____________________

        Passo a passo

  • 18 de Maio de 1990 – Sancionada Lei Complementar nº 64, a Lei das Inelegibilidades
  • 29 de Setembro de 2009 – Entregue no Congresso o Projeto de Lei da Ficha Limpa.
  • 4 de Junho de 2010 – Presidente Lula sanciona a Lei Complementar nº 135/2010, a Lei da Ficha Limpa.
  • 16 de Fevereiro de 2012 – Maioria do plenário do STF declara a lei constitucional, sem retroatividade, respeitando a Carta.

PSDB busca financiadores para 2014
Comentários Comente

Leandro Mazzini

O PSDB começou corrida por grandes financiadores de campanha para a disputa presidencial. Esse foi um dos assuntos da reunião do pré-candidato Aécio Neves com os economistas tucanos há poucos dias, no Rio. O senador quer logo apresentar aos empresários seu projeto. O PSDB teme perder o timing porque esconde um erro: No início de 2010, os executivos dos cinco maiores setores do país tentaram por dois meses reunião com José Serra, mas ele não se decidia. Então apoiaram o PT.

PODER PAULISTA. Outro risco para Aécio é uma pré-candidatura de Geraldo Alckmin. Ele comanda o estado-sede do PIB financiador.

NO PAPO. Em novembro, quando a coluna mencionou o cenário SP & Financiadores para o senador, ele riu amarelo e disse que tudo é questão de conversa.

Siga o blog no Twitter e no Facebook