Caso Feliciano: Polícia quer prisão de mulher; defesa acusa intimidação
Leandro Mazzini
> Bate-boca entre delegado e advogado aumenta a tensão
> Polícia quer prisão preventiva de Patrícia se ela não for a SP depor, mas não avisa se vai indiciar Bauer
> Evidências da negociação complicam Patrícia, por extorsão, e Feliciano – que tentou pagar por seu silêncio
> Feliciano mentiu no vídeo em sua defesa ao dizer que não sabia dos passos do assessor – vídeo comprova que ele telefonou para Patrícia e pediu ajuda
O delegado do 3º DP (Campos Elisios) de São Paulo, Luís Roberto Hellmeister, avalia pedir a prisão preventiva de Patrícia Lélis, a jovem de Brasília que acusa o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) por assédio, agressão e tentativa de estupro dentro do apartamento funcional. Ela é acusada de falsa comunicação de crime e de tentativa de extorsão.
O chefe de gabinete de Feliciano, Talma Bauer, que depôs hoje à tarde na DP, está na mira e pode ser enquadrado por favorecimento pessoal. O imbróglio envolve a tentativa de comprar o silêncio da jovem diante do suposto crime cometido pelo parlamentar e denunciado por ela à Coluna.
O caso ganhou proporções mais sérias no início desta tarde quando o advogado de Patrícia e o delegado bateram boca ao telefone. O criminalista José Carlos Carvalho acionou a AASSP – Associação dos Advogados de São Paulo, da qual é sócio, e oficializou que foi chamado de ‘canalha’ pelo delegado ao questionar por que deve levar Patrícia para SP urgente para depoimento – em vez de fazê-lo por carta precatória, em razão de Patrícia morar em Brasília.
Esse bate-boca por telefone começou quando ambos – o delegado e o advogado – desconfiaram mutuamente de que a conversa estava sendo gravada, o que os dois não aceitariam.
“Se existe algum canalha nessa história, com certeza não sou eu”, diz o advogado.
Em mensagem ao repórter , o delegado justificou sua posição. Relatou que falava ao celular de uma advogada que se chama Fernanda, e que se apresentou como defensora de Patrícia no caso de SP. Diz Hellmeister: “Eu disse a ele: não sou canalha para ficar gravando. Mas ele disse ‘mas eu tô gravando’. Então disse ‘eu não sou mas você é’.
Leia aqui – sete questões que Feliciano precisa explicar
QUEM É BAUER
A defesa de Patrícia Lélis acusa intimidação por parte da Polícia. O advogado José Carlos Carvalho questiona se Talma Bauer será indiciado ( por favorecimento pessoal, ao propor dinheiro à mulher ). Ontem a Coluna publicou a íntegra do vídeo em que Patrícia e Bauer tratam um suposto suborno a ela, entre R$ 10 mil e R$ 50 mil, para que mudasse a versão contra Feliciano.
Bauer é investigador aposentado da polícia paulistana, e tem um irmão que é policial da ativa. Por ordens superiores, o B.O. contra Bauer e a oitiva contra Feliciano feitos por Patrícia foram mantidos sob sigilo, para evitar politização da história, até que as investigações avançassem.
Esta semana, Bauer apareceu em Brasília acompanhado de dois supostos policiais, e andou pela cidade sempre com a dupla. O que fez o advogado da jovem, ao descobrir sua volta, pedir proteção policial para a mulher.
VERSÕES CONTRADITÓRIAS
Patrícia chegou a gravar vídeos enquanto esteve em SP, ao lado de Bauer, e num dos momentos até atendeu Feliciano ao telefone – embora ressabiada. Neste telefonema, segundo ela relata, o deputado pediu um vídeo caprichado em sua defesa, “me ajuda, tenho família” – teria dito.
O acordo veio abaixo quando a mãe de Patrícia, localizada pelo repórter, entrou na história, e viajou para SP. Lá no hotel, teria convencido a filha a denunciar tudo na delegacia. Na versão da mãe e de Patrícia, a jovem ficou o tempo todo sob coação de Bauer, que via tudo o que ela escrevia ao telefone, e ouvia suas ligações, em viva voz, por sua ordem.
EM BRASÍLIA, PASSOS LENTOS
A situação policial em SP contra a garota é dissociada da investigação que ocorre em Brasília contra Feliciano.
Patrícia o acusa de agressão – soco na boca, chute na perna e tentativa de estupro – dentro do apartamento funcional na Quadra 302 Norte. E depois de denunciar o caso à Coluna , viajou para SP e mudou sua versão – foi quando teria começado a negociação financeira, segundo a polícia, ou a coação, de acordo com a mãe e a advogada de Patrícia.
Feliciano foi denunciado pela senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) ao MP do DF e por um grupo de 22 deputadas federais à Procuradoria Geral da República.
A PGR notificaria o Supremo Tribunal Federal para abrir inquérito contra Feliciano. A Coluna questionou a PGR e o STF sobre a denúncia e o acolhimento ou não da mesma.
A assessoria do Supremo informou que ainda não foi notificada da denúncia – que deverá, por praxe, ser avaliada pela PGR, o que já ocorre desde a denúncia da última terça-feira. Se a PGR decidir pelo pedido de abertura de inquérito, o ministro da Corte sorteado como relator do caso autoriza a investigação, e a Polícia Federal entra no caso para as diligências.
Patrícia também denunciou Feliciano em B.O. na Delegacia da Mulher de Brasília no último domingo à noite, quando retornou de SP.
Confira aqui a primeira denúncia
Ouça aqui o áudio em que ela confirma a agressão
Assista o vídeo que comprova encontro da garota com assessor
Leia aqui os prints das conversas sobre negociação de R$ 300 mil
Feliciano telefonou para ela, e pediu para caprichar em vídeo em sua defesa
Veja aqui o cronograma da denúncia