Coluna Esplanada

Arquivo : ruas

Por estabilidade social, Temer tenta aproximação com sem-teto e sem-terra
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Leandro Mazzini

José Rainha. Foto de arquivo extraída de O SUL

José Rainha. Foto de arquivo extraída de O SUL

Um cenário inimaginável há anos pode ocorrer na atual conjuntura política: Os sem-teto e os sem-terra, que infernizam avenidas, estradas e propriedades rurais, fecharem aliança – ou acordo de trégua – com um Governo de Centro-direita.

O presidente da República, Michel Temer, articula uma forte aproximação de seu Governo com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e com entidades de sem-teto, historicamente ligados – e financiados – pelo Partido dos Trabalhadores e seu Governo.

Temer quer neutralizar a gritaria nas ruas, o bloqueio de estradas e iminentes invasão de fazendas – o GSI e a Abin acompanham de perto.

O presidente convidou o ex-líder maior do MST, José Rainha, hoje comandante da Frente Nacional de Luta e ainda influente entre sem-terra, para ser consultor informal sobre a demanda do campo. Rainha esteve no Palácio e não escondeu a satisfação para ser o interlocutor da pauta agrária.

“Queremos a volta do Desenvolvimento Agrário”, disse um Rainha animado à Coluna

O atual Governo tem carta na manga e Temer deve atender os movimentos. A reforma agrária travou em 2015 no Governo Dilma, quando nenhuma fazenda foi desapropriada para assentamento – o primeiro ano sem assentamentos assinados desde a redemocratização.

O INCRA, responsável pelas análises demandadas, está atento à pauta. E o Ministério das Cidades deve retomar os investimentos do Minha Casa, Minha Vida, a granel, dentro do que pode entregar.

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Colaborou Walmor Parente


Oposição quer reunir meio milhão em Brasília dia 13
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Leandro Mazzini

protesto

Os movimentos antipetistas apostam as fichas na manifestação do dia 13 de março. Projetam levar meio milhão de pessoas às ruas de Brasília, repetindo a adesão registrada ano passado. “Ou você vai, ou ela (Dilma) fica”, é o slogan do convite disseminado nas redes sociais.

“O País não suporta mais esse governo afogado em escândalos”, brada o líder do PPS, Rubens Bueno (PPS-PR).

A resposta veio rápida, do outro lado do Congresso: “Estão desesperados. Vão se frustrar aqui no Congresso e nas ruas”, ironiza a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).

Ciente de que o impeachment perde força aos poucos no Congresso, a oposição criou comitê para financiar ações dos movimentos aliados, como Brasil Livre e afins.

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Movimentos contra Governo vão apostar na guerrilha virtual
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Leandro Mazzini

Foto: Reuters

Foto: Reuters

A ordem dos movimentos que hasteiam bandeira do impeachment da presidente Dilma, que será discutido na Câmara dos Deputados a partir de fevereiro, é intensificar táticas de guerrilha nas redes sociais.

A autocrítica é de que a “desmobilização virtual” foi a grande responsável pela queda vertiginosa de público nas últimas marchas pelo Brasil.

Na outra ponta a base governista e os movimentos sociais que apoiam o Governo apontam que não há razão para abertura do processo, diante do pagamento de R$ 72 bilhões da União a bancos para zerar as ‘pedaladas fiscais’, motivo do pedido de impedimento acolhido pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha.

Há movimentos prós e contra o processo, que ganham os debates na sociedade civil.

Partidos da base lançaram uma campanha pela ‘legalidade do Governo Dilma’, e seus expoentes rodam o País em explanações públicas, apontando perseguição da oposição e falando em ‘golpe’.

Alguns analistas indicam que a massa popular pode fazer a diferença, a favor ou contra a presidente. O presidente da Associação Nacional de Consultores Políticos, Carlos Manhanelli, aponta que não há impeachment sem pressão popular. Lembra que a queda do ex-presidente Fernando Collor iniciou nas ruas com os tradicionais caras-pintadas. “O clima das ruas está frio”, resume.

Manhanelli afirma que, além das denúncias que atingem em cheio figurões do governo e do PT, a grave crise econômica que afeta o País pode ser impulsionador do processo de impeachment. “Dê instabilidade política ao povo e ele devolverá com instabilidade política”, afirma o professor, em citação livre do escritor inglês Karl Marx.


Exército em alerta com MST e protestos
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Leandro Mazzini

O Centro de Informações do Exército, núcleo de inteligência da Força, monitora com atenção redobrada as recentes e intensas ocupações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra nos Estados, e também de olho nas manifestações populares programadas para hoje, pró-governo, e para domingo, contra o Governo.

Há suspeita de que os Black-blocs e baderneiros possam se infiltrar nas três frentes – nos acampamentos e nas manifestações. Além disso, o Exército descobriu novas táticas do MST: uso de crianças e mulheres em invasões, como escudos para intimidarem eventual reação das Polícias Militares ou Forças Armadas.

Entre generais há ideia de que a qualquer hora terão de enfrentar o ‘Exército Vermelho’ de João Pedro Stédile. A inteligência do Exército já mapeou quem é quem no comando dos sem-terra em todos os Estados e pode trabalhar em parceria com as PMs para detê-los em caso de desordem.

Questionado sobre o monitoramento, o MST não se pronunciou. A assessoria do Exército informou que ‘pauta suas ações conforme o previsto na Constituição’, e que ‘a Força faz o acompanhamento da conjuntura nacional’.


O Gigante acordou e põe Marina contra Marina
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Leandro Mazzini

gigantevale

A cúpula do PT já admite veladamente a possibilidade de a candidata Marina Silva (PSB) surgir na frente da presidente Dilma Rousseff (PT) nas urnas, mesmo que em pequena vantagem, dia 5 de outubro.

Até lá, Marina será bombardeada pelos dois adversários, Dilma e Aécio Neves (PSDB). De trajetória bonita como a do ex-presidente Lula, sem processos, ficha-limpa, cujos aliados alardeiam ter sido injustiçada por forças ocultas na fundação da sua REDE, e na esteira da comoção nacional pela morte de Eduardo Campos, Marina tem hoje um único adversário: ela mesma, e suas contradições que começam a aparecer.

Até a eleição, naturalmente para agarrar a oportunidade, Marina vai ter de rever seu discurso considerado até agora radical. Como dizem no Acre, “o cavalo só passa selado uma vez, ou monte e fica para trás”.

E em poucos dias ela já fez por onde: aproximou-se do agronegócio, tão criticado anteriormente; não é mais contra as sementes transgênicas pesquisas e criadas em laboratórios; e só falta dizer que é a favor da usina de Belo Monte, no Pará – a maior obra de infraestrutura em andamento no País.

É evidente que ela vai amansar o discurso, mas deve tomar cuidado, porque o povo não é mais bobo, e a internet com suas redes sociais, nas capitais e rincões, da classe A à classe D, tornou-se hoje a maior ferramenta de democracia – é o canal de críticas, sugestões, e principalmente desabafos.

Foi essa rede virtual que levou às ruas de todo o Brasil em junho de 2013 milhares de pessoas insatisfeitas com vários problemas, e não só contra a política. Aquele Gigante, que havia adormecido desde então, parece estar despertando: é este Gigante, sem cara, mas com milhares de cabeças e decisão de votos, que está reconhecendo em Marina a sua legítima representante.

Então, os adversários que se cuidem e tratem de acalmá-lo, com propostas concretas e viáveis. Marina que se cuide para domá-lo, já que está com as rédeas por ora, porque o Gigante tem a mão pesada. Em especial na hora do voto.


O Outono Tupiniquim, e a provável volta do povo às ruas
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Leandro Mazzini

povo

Foto: ABr

Eu tinha 14 anos quando corri em 1989 atrás do candidato Fernando Collor de Mello na minha terra natal, em Minas. Era extraordinário ver de perto aquele homem que só aparecia na televisão com promessas de caçar os marajás e ‘tirar esse bandido que está aí no Poder’.

Lembro bem de sua fala naquele comício de meio de tarde, de meio de semana, e que arrastou meia cidade atrás dele numa caminhada entre o campo de futebol – onde descera espetacularmente de helicóptero – até o Centro. (O vice apagado, Itamar Franco, foi encontrado incólume por um anônimo perdido numa rua, não aguentara o pique, e foi ovacionado por uma dupla).

Também fui às ruas dois anos depois, não pintei o rosto, mas o coração sonhador estava machucado, a alma manchada de vergonha de ter acreditado naquele circo. Assim são os jovens – e adultos ou anciãos, também novos de espírito – que foram às ruas no fim de Junho de 2013, o nosso Outono Tupiniquim, a versão mais comedida da Primavera Árabe.

Não houve queda de governos – ora, vivemos uma democracia madura, apesar de um Poder nem sempre sensato – mas reconheci o meu lado adolescente desencantado de 89 na garotada (não os baderneiros) nas capitais e rincões do ano passado.

O que acontece hoje, e continuará ocorrendo nestes novos tempos, com menos ou mais intensidades, esporadicamente ou não, é o renascer contínuo do ser político intrínseco em nossa alma, o despertar do ‘monstro’ que uiva, do ser humano que solta o grito contido de decepção com tudo e com todos. Isso é bom, e necessário para o aperfeiçoamento da democracia. E o constante, esperamos, melhoramento dos serviços públicos, os quais pagamos com nosso suor cotidiano.

O Outono Tupiniquim remete a um livro recente do pensador francês Stephane Hessel. Ele, que presenciou as marchas de 1968 em Paris, sentiu na Primavera Árabe, de dois anos atrás, o renascer destas almas que dormitaram por muitos anos. Por algum motivo, a internet talvez como fonte propulsora, o povo despertou e se uniu nas ruas. O resultado, nós todos vimos, apesar de neste mundo nada ser perfeito: caíram déspostas decanos, mas o pior deles ficou: o ditador da Síria, Bashar Al Assad.

Pouco antes de morrer, o economista Celso Furtado, em sua última entrevista, foi profético ao dizer que um governo de esquerda no Brasil não teria muita margem de manobra. Pois Lula conseguiu chegar lá, mas pouco mudou o que tanto criticara. Em alguns casos, o PT fez pior. Pouco antes de falecer, o vice-presidente José Alencar, então presidente interino num café ao crepúsculo com este repórter, confidenciou baixinho: ‘O maior problema do Brasil é a impunidade’.

O recado das ruas é apartidário, mas para todos os partidos. As coisas mudam, pessoas idem, sonhos se esfacelam, no entanto outros nascem de formas diferentes, como estes nas ruas. Há possibilidade de esses jovens – de idade e de espírito – que dormitam desde Julho, acordarem no pré-carnaval motivados pelo novo (e inevitável, agora) aumento das passagens de ônibus municipais, por lei, em todo o país. Desta vez, não há negociação – a inflação está aí, a gasolina aumentou e ano passado os prefeitos já bancaram o subsídio.

Provavelmente um novo mutirão de gritos nas ruas de todos os cantos não seja movido pela contestação das passagens. A turma já pulou a roleta. O povo agora mostrou a cara, tem identidade, tirou a carteira e quer é conduzir o ônibus..

Em tempo, o ‘bandido’ ao qual o candidato Collor se referiu era José Sarney, então presidente, hoje seu colega de bons papos e sorrisos no Senado Federal.

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